quarta-feira, 26 de junho de 2013

(cap 9)

ALGUNS MESES DEPOIS

Já era quase de noite. A casa já estava limpa e eu ia tomar banho quando meu celular tocou. Era Fernando.
- Amor, se arruma. Vou te levar pra sair hoje à noite.
- Ok... Pra onde?
- Pra jantar. Coloca uma roupa bem sexy pra mim, coloca? – sussurrou a ultima frase. Talvez estivesse com pessoas por perto.
- Coloco sim. Sexy e fácil de tirar – disse lentamente.
- Mmm – ouvi sua respiração – Tenho que desligar – e por fim, desligou.
Depois que tomei banho, me perfumei, abusando de cremes hidratantes. Fernando havia me dado dinheiro – muito dinheiro – para comprar o que quisesse.


FlashBack
- Amor... – disse esfregando a toalha no cabelo molhado e depois a jogou na cama. Ele caminhou até o guarda-roupa, ficando nas pontas dos pés pra poder alcançar a parte mais alta. Tirou de um fundo falso, um saco preto que dentro havia maços de dinheiro e entregou-me um deles – Pega esse dinheiro e vai comprar algumas coisas pra você.
- Eu não estou precisando de nada, Amor... – estiquei o braço pra devolvê-lo.
- Para de graça – sorriu e me deu um selinho. Eu não sabia como agir. Naquele maço deveria haver pelo menos R$10,000 – Vai ao shopping, e compra o que você quiser.
- Vem comigo, então? – fiz cara de piedade. Assim também compraria algo pra ele, e... Seria legal me divertir com o homem que tanto amo, afinal, nunca gostei de ir ao shopping sozinha.
- Argh... – fez careta – Eu não tenho paciência pra te esperar...
- Por favor – fiz bico. Era infantil, mas eu sabia que ele não resistiria.
- Ah – e pigarreou – Tudo bem – disse ao envolver-me e puxar meu beiço com os dentes – Quer ir agora?
- Uhum – disse enquanto acenava com a cabeça, mas na verdade, minha vontade era de transar com ele.
- Então se arruma – encorajou-me com um empurrãozinho e deu estapeou em minha bunda. Eu suspirei, na tentativa de conter-me.

Depois de pronta, Fernando e eu descemos até a garagem. Ele havia comprado um carro pra mim, pois segundo ele logo eu tiraria carta e poderia sair sem ele. Mas enquanto eu ainda estava tendo aulas, ele me levaria onde eu quisesse. Meus pensamentos tomaram conta de mim enquanto estávamos indo ao shopping. Fernando era até mesmo um pai pra mim. Dava-me de tudo e eu apenas... Respirava. Lembrei-me quando minha tia me chamou de sangue suga. Eu as vezes insinuava em conversas que eu não era boa o suficiente pra ele, mas segundo ele, eu o mantenho são, o mantenho humano, pois como ele disse, sou a única pessoa que ele ama. E, bem... Isso é recíproco.
Eu achei que ele fosse me levar a um shopping comum, mas pra minha surpresa, ele me levou a um dos shoppings mais luxuosos da cidade. Eu até me senti desconfortável por estar com minhas roupas comuns, mas é claro, estava usando o relógio que ele havia comprado. Já Fernando, apesar de ser bandido, ele não era um típico favelado rico que usava várias correntes de ouro e boné. Na verdade, ele tinha muitas roupas de marcas nobres e seu rosto também era... Digamos, de um playboy. Eu nunca, jamais me interessei pelo dinheiro que ele tinha, mesmo sabendo que era muito. Ele um dia, confessou que apesar de sentir vontade de morar num condomínio fechado, e andar em carros importados, sentia-se mais seguro morando na favela, favela, que segundo ele, sempre será sua casa.
“Óh, Céus, como eu amo esse homem”, pensei assim que ele percebeu que eu o encarava, e sorriu pra mim.
- Espere – disse ao sair do carro. Minha respiração até falhou. O que ele iria fazer? Fernando deu a volta, chegando ao meu lado e abrindo a porta – Madame...? – e estendeu sua mão pra pegar a minha. Não pude deixar de rir, mas entrando em sua brincadeira, assim, dando-lhe minha mão – Mmm... – emitiu esse som grave sexy e gostoso que me faz deseja-lo, e deu um beijo em minha mão. Ele examinou o relógio em meu pulso e encarou-me pelo canto do olho – É... – puxou-me e sussurrou em meu ouvido – Quero que você compre uma calcinha que combine com esse relógio, assim, eu começo tirando-o de seu pulso com minhas mãos, e termino tirando-a com minha boca – minhas pernas formigaram quando ele disse isso. Eu o encarei. Sei que meus olhos pediam por misericórdia, pois ele riu de minha cara. Como eu o queria... – Vem, minha rainha.
Nós compramos, almoçamos, compramos mais coisas, e mais coisas ainda. Fernando também comprou várias peças de roupas pra ele. O filho da mãe levou e sacou – de sua conta fantasma – tanto dinheiro. Era incrível como ele tinha tudo planejado. Contas, documentos... Para o mundo ele realmente era Alison.
Já era a terceira vez que nós havíamos descido até o estacionamento levar os montes de sacolas.
- Nunca achei que teria uma saia da Dior e um vestido da Daslu – ri enquanto caminhávamos abraçados até o elevador.
- Você merece muito mais que isso – sussurrou em meu ouvido. Ele disse isso numa inocência e sinceridade tão grande que fiquei sem palavras.
Bem, o resto da noite foi tranquila, e como ele havia prometido, começou em meu pulso e terminou em sua boca.



Eu já estava pronta, perfumada, gostosa... Com certeza, tiraria o fôlego de Fernando. Assim que ele chegou, eu estava no terraço recolhendo as roupas, pois provavelmente choveria. Eu as coloquei numa parte coberta e sentei numa das cadeiras de plástico. Vislumbrei a cidade enquanto esperava Fernando.
A vista era tão bonita. Era o início de uma noite bem escura por conta das nuvens, e a Lua refletia no mar de tal maneira que era uma amostra do paraíso. Vislumbrei os barracos mal iluminados, as árvores graúdas, os tijolos vermelhos do lado de fora da nossa casa... Eu não trocaria essa vida por nada... Principalmente esse som. Som dos passos de Fernando, que chegavam até mim.
- Eu amo isso aqui – disse ao agachar-se atrás de mim e beijar meus cabelos e acariciar os mesmos. Eu o olhei e ele estava fascinado com sua visão – Também amo você – sorriu pra mim – Demais.
- Eu sei, meu amor – acariciei sua mão e beijei a palma da mesma.
- Vamos?! – disse ao levantasse-se e puxar-me. Assim que virei, Fernando encarou-me de cima a baixo – Sexy e fácil de tirar – disse com um sorriso maroto e prensou-me contra seu corpo.
- E você sabe que quanto mais cedo irmos, mais cedo voltaremos – sussurrei.

Fernando e eu conversamos sobre o que fizemos hoje. Enquanto ele me contava sobre seu dia, eu memorizei cada detalhe de seu corpo. Calça jeans preta e camisa branca e jaqueta de couro preta. Estava de enlouquecer qualquer uma, e de invejar qualquer um.
- O que foi? – perguntou semicerrando os olhos, um tanto sem graça.
- Estou admirando sua beleza.
Ele sorriu e me puxou com toda força pra perto de si. Seu braço estava entorno do meu pescoço, enquanto ele quase arrancou meus lábios com seu beijo e mordida e logo, disse:
- E eu agora quero admirar a sua – disse ainda encarando-me de perto sem se importar com o trânsito.
- Está louco, moleque? – gritei segurando o volante e olhando para os carros a nossa frente, tentando me soltar de seu braço, mas confesso que gostei dessa sua brincadeira.
- Você me chama de moleque... Me deixa fodido de raiva, sabia? – disse num tom sexy e grave.
- É? Fica bravo? – perguntei roçando meus lábios nos seus.
- Louco... – e beijou-me rápida e violentamente. Assim voltando sua atenção a sua frente.

Não demorou muito até que chegássemos ao nosso destino. Fernando levou-me à um pub moderno e badalado no centro.
- Seria engraçado se nós estivéssemos ouvindo um funk proibido no ultimo volume, não acha? – perguntei sorridente, imaginando a situação.
- Nem nos deixariam entrar – riu.
- Você é muito filho da puta, eim, Fernando – disse sorrindo e ele fez careta sem entender – É um bandidão, mas paga de playboy – tirei sarro de sua cara.
- Fazer o que se eu sou esperto demais pra ter uma vida boa e ainda mandar na minha favela – disse sorridente e brincalhão num tom esnobado, enquanto ajeitava sua jaqueta, incorporando sua personagem.
- Seu idiota – sorri e estapeei seu ombro.

Nós fomos até o local. Um homem perguntou onde gostaríamos de ficar e Fernando disse num lugar reservado. Ele nos levou até uma mesa com cadeiras acolchoadas ao lado de uma janela. O lugar estava um tanto abarrotado por ser dia de semana, na verdade, parecia ser sábado.
- O que gostariam? – perguntou educadamente à Fernando e mim.
- Eu gostaria de um black... E você? – me encarou.
- Vodca – disse ao homem.
- Tudo bem... Com licença – e retirou-se.
- Não vai me dar trabalho, vai? – Fernando aninhou-me junto de seu corpo. Seu hálito fresco batia em minha boca.
- Você acha que não? – disse ao puxá-lo e beijá-lo intensamente. Eu estava começando a me animar, pois quando dei-me conta, minha coxa já estava nas mãos de Fernando. Contive-me quando o garçom voltou com nossos pedidos.
Fernando pediu algumas bobagens para comermos, e eu aceitei, pois eu não estava com muita fome.
Nós comemos, conversamos, rimos, bebemos (principalmente eu) e nos beijamos tanto até que nossos lábios ficaram inchados. Encaixei meu rosto no pescoço de Fernando e enquanto inalava seu perfume, ficando ainda mais bêbada.
- Amor – disse mole – Vou ao banheiro... – pensei melhor – Não, não!, ao toalete – ri, pois também estava incorporando a personagem. Fernando gargalhou.
- Ok... – deu-me passagem e eu segui até o “toalete”.

Assim que usei o mesmo, me encarei no espelho e dei um retoque em minha maquiagem. Tomei o máximo de cuidado pra não borrar, pois meus movimentos não eram um dos mais perfeitos. Encarei-me e gostei do que vi. Meus cabelos estavam um tanto rebeldes, deixando-me ainda mais sexy, pois também estava com batom vermelho. Arrumei meu vestido em meu corpo, pois o mesmo estava um tanto torto. Era um milagre eu poder andar de salto sem cair do jeito que eu estava.  
Assim que saí do local, lembrei na metade do caminho que eu tinha esquecido minha bolsa de mão no banheiro. Virei-me pra busca-la, mas meu corpo se chocou numa parede. Eu estaria no chão se não fosse pelos braços dessa parede que agora me segurava.
- Cuidado, senhorita, não vai se machucar – olhos verdes e lábios finos me alertaram.
- Ah, me desculpe – juntei o máximo de consciência que eu ainda tinha. Semicerrei os olhos tentando ver melhor seu rosto.
- Não, está tudo bem – ele olhava pra minha mão esquerda. “É, príncipe, eu apenas aparento não ser casada”, pensei. Ele soltou-me e eu me endireitei – Gostaria de se juntar a mim e meus amigos?
- Senhorita, sua bolsa – uma moça disse ao colocar a mão em meu ombro, chamando minha atenção.
- Ah, muito brigada – disse agradecida, pois nem me lembrava mais disso.
- Por nada – saiu. Aquele homem ainda esperava minha resposta.
- Eu não sei se devo... – disse hesitante.
- Ah, por dez minutos. Se eu for chato demais você pode ir embora sem me dar seu telefone – insistiu sorridente e simpático. Eu não resisti, afinal, Fernando não sentiria minha falta por dez minutos.
- Tudo bem – assenti. Ele segurou em minha mão e guiou-me.
Ele estava numa mesa com mais três amigos. Havia mais duas garotas.
- Pessoal, essa é a... – ele inclinou-se de modo que minha boca encostasse em seu ouvido – Eu não sei seu nome, moça – Eu ri e disse meu nome. Ele me apresentou educadamente para seus amigos e todos foram muito educados comigo – Sente-se aqui – puxou uma cadeira pra mim e sentou ao meu lado – A propósito, me chamo Heitor – disse sorridente. Encarei-o. Loiro, rosto quadrado, musculoso... Eu com certeza treparia com ele... Se não estivesse com Fernando.
“Fernando”, pensei.
- Desculpe, mas eu não posso ficar aqui... – ia me levantando, mas ele me segurou.
- Ah, por favor, vamos conversar um pouco... Bebe alguma coisa e depois te deixo livre – ele sabia como segurar uma garota.
- OK... – um, apenas.
Eu bebi mais uma ou duas doses de Vodca. Quando cheguei na terceira, eu já estava debruçada no encosto da cadeira de Heitor.
- Mas que palhaçada é essa? – reconheci de imediato a voz de Fernando. Joguei minha cabeça pra trás e o encarei. Ele ficava engraçado de ponta cabeça.
- Oi amor – ri de sua cara. Mesmo bravo, ele ficava incrivelmente lindo. “Bravo”, pensei. Por que ele estaria bravo comigo? Eu não estava fazendo nada de mais...
- “Oi amor” é o caralho! Levanta dessa porra de meda agora – ele puxou-me.
- Ela pode ficar se quiser – interveio Heitor, ficando de pé e encarando Fernando. Como eu gostaria de vê-los brigar... Ou até mesmo transar ao mesmo tempo com os dois.
- Cala a tua boca, mauricinho. – disse mais alto, apertando meu braço – Que hoje eu só não te arrebento, porque vou arrebentar essa daqui – e encarou-me com olhos cor de fogo... Fogo do inferno, e assim puxou-me com violência. Todos que nos viam, ficavam boquiabertos. Fernando me apertava tão forte, que realmente começou a doer. Eu tentava gritar com ele, mas estava tonta de mais. Minha voz não saia. Na verdade nem sei como já estávamos encostados em nosso carro – Minha vontade é de te arrebentar, sua filha da puta! – ele não gritava, mas dizia isso entredentes, e dava pra ver que ele queria mesmo me bater, pois segurava meu maxilar com força – Eu te mato!, eu juro que te mato se... – um som de raiva saiu de sua garganta assim que ele deu um soco no carro, ao lado de meu rosto.
- Não mata não – o desafiei. Ele me encarou com um olhar de dar medo, que eu até fiquei um tanto mais sobrea.
- Para de me provocar – disse baixo ao enforcar-me e logo soltar meu pescoço.
- Não mata, sabe por quê? – disse deslizando uma de minhas mãos até o volume que havia entre suas pernas – Porque você me ama – sussurrei em seu ouvido.
- Você é uma puta! – ele disse um tanto alto, empurrando-me– Se eu não tivesse aparecido, teria dado praquele otário! – seu nervosismo apenas aumentava meu desejo.
- Então me come, Fernando! – puxei-o com força – Me come aqui, agora! Não me faça ficar arrependida por ter escolhido você e não ele! – ele me encarava com sobrancelhas unidas e maxilar contraído – Me mostra que você é mais homem do que ele! Me mostra que você fode mais gostoso do que ele! – eu dizia entredentes, louca de tesão.
- Sua puta... Cachorra – disse ao emaranhar seus dedos em meus cabelos e puxar meu pescoço para um lado, deixando o outro livre e o mordendo e beijando. Fernando beijou-me violentamente. Ele levantou uma de minhas coxas e a apertou com tanta força que chegou a doer tão gostoso. Fernando conduziu-me a um beco ao lado do pub, e prensou-me contra a parede fria – Você precisa de uma surra, sua vagabunda – sussurrou ao meu ouvido e mordeu minha orelha, deixando-me sem ar.
- Uma surra de pau – disse prensando minha intimidade contra a dele e sorrindo maliciosamente. Fernando levantou-me pelas pernas, encaixando nossos corpos. Ele me apertava contra a parede enquanto meu beijava e passava as mãos na lateral do meu corpo. Não demorou muito até que ele desabotoasse sua calça e erguesse meu vestido.
- Mas que porra de calcinha – disse com ódio, agarrando e rasgando o tecido. Como eu o amava. Fernando invadiu-me com força desde o primeiro momento, e ele ia cada vez mais fundo. Eu mordia meu pescoço enquanto abafava meus gemidos. Ele puxou-me violentamente pelos cabelos, forçando-me a olhá-lo – Geme pra mim, sua vagabunda! Geme! – ordenou. Eu queria mais, então não fiz o que ele pediu. O queria furioso – Sua puta do caralho – e então me penetrou com tanta intensidade que foi impossível não gemer. Fernando também urrava enquanto me encarava – Você ainda queria estar com aquele frouxo? Eim? – perguntou-me em meio ao seus movimentos.
- Não – minha voz não saiu alta o suficiente.
- Não ouvi, responde! – disse alto e me deu um chacoalho.
- Ah... – eu tentava tomar fôlego – Não! – disse bem claro. Eu já havia gozado, mas mesmo assim Fernando não me largava. Minha intimidade ficou anestesiada. Eu nunca tinha sentido um prazer tão grande na minha vida, até que Fernando também gozou.
- Essa é a ultima vez que você faz isso – disse ao colocar-me no chão e abotoar sua calça. Eu arrumei meu vestido – Porque da próxima, eu juro que te mato! – segurou em meu maxilar e mordeu meus lábios com vorazmente – Vamos embora, caralho – disse puxando-me de qualquer jeito de onde estávamos.

Ele não disse nada o caminho todo, até que eu puxei assunto.
- Ainda está bravo comigo? – fiz voz de arrependida. Ele não me respondeu, apenas pigarreou – Sabe... – disse me aproximando dele – Essa foi uma das melhores da minha vida – disse como uma menina que acabou de perder a virgindade. Ele riu.
- Você gosta de tapa. – olhou-me pelo canto do olho.
- Puta ou não, eu te deixo doido, não deixo? – me entiquei ainda mais.
- Louco – disse passando seu braço envolta do meu pescoço. Fernando deu-me um selinho doce e calmo – Mas eu não estou brincando... Experimenta fazer isso outra vez que eu te arrebento de verdade... E você sabe que eu posso – apenas disse com firmeza a ultima frase. E eu sei que ele poderia mesmo.
- Só não me deixe mais ir ao banheiro sozinha – brinquei – E eu nunca te trairia, mesmo bêbada.
- Mmm... Isso quase aconteceu.
- Não – ajeitei-me em meu banco – Não, não. Eu não ia. Eu apenas estava alta. Confesso que ele era bonito, mas...
- Quer mesmo começar uma discussão sobre isso? – interrompeu-me – Queria ver se fosse eu a dizer que uma mulher é bonita – ironizou.
- Mô... Você fica uma gracinha com ciúmes – sorri.
- Pare de ser infantil! – ele estava voltando a ficar bravo.
- Pare você também – disse ríspida – Porra, eu dei pra você e não pra ele. Você sabe, só não admite por machismo, que eu não te trairia – e assim eu o calei.
 Nos mal nos falamos até chegarmos em casa. Enquanto eu tomava banho, tive a esperança de que Fernando invadisse meu espaço, mas isso não aconteceu, e quando sai do banheiro e entrei em nosso quarto, ele nem olhou em minha cara ao passar por mim para tomar seu banho. Eu deitei e o esperei de olhos fechados, pois ainda estava bêbada e sei que terei uma bela dor de cabeça amanhã. Assim que ele se deitou de costas pra mim, meu coração apertou de tal maneira, que eu engoli meu orgulho, e disse: 
- Me desculpa por hoje. Eu sei que não estava certa, mas... – pensei bem no que dizer – Eu só não consigo aguentar você me ignorando na hora de dormir. Não posso dormir em paz sem saber que você ainda me quer aqui – a última frase saiu tão baixa, mas tenho certeza de que ele ouviu.
Ele se virou – pra minha maior alegria – e disse:
- Eu sempre vou te querer ao meu lado, meu amor – me abraçou e deu um beijo em minha testa. Assim, pude dormir em paz.



segunda-feira, 17 de junho de 2013

FlashBack





Eu ria alto com as palhaçadas do Adan Sandler, mas a campainha fez com que eu direcionasse minha atenção e corpo até o portão.
Assim que abri o mesmo, vi minha tia, que me encarava com um tanto de arrogância.
- Sua mãe está aí? – perguntou-me soberbamente.
- Tá dormindo... – encostei no portão, cruzei os braços e fiquei num pé só, com o outro pé apoiado no joelho – Quer entrar? – devolvi com o mesmo tom.
- Não – respondeu-me seca – Ela bebeu?
- Não sei e não ligo – não era minha intenção ser educada com ela se era não fosse comigo.
- Você cala essa sua boca, pirralha! – praticamente enfiou seu dedo em minha cara.
- Cala sua boca você!, que aqui você não é nada, não, vagabunda! – disse mais alto ao empurrá-la – Quem você pensa que é pra fazer isso na minha casa?
- Sua casa porra nenhuma! – ela começou a ficar vermelha como pimentão – Isso aqui é da minha irmã! Você não tem o direito de...
- Ah, você é que não tem o direito de vir aqui, então fica na sua – dei-lhe as costas e estava pronta pra fechar o portão na cara dela, mas ela segurou o mesmo.
- Você é uma preguiçosa!, uma sangue suga!, uma acomodada! – cuspiu as palavras de forma enojada e aquilo me atingiu – Tem quase 18 anos e não faz nada da vida! Uma burra que nem pra escola ia direito! Eu, vagabunda? HAHAHA! A vagabunda aqui é você, que dá mais que chuchu na cerca, oferecida, biscate!
- Já que eu sou um chuchu gigante, segue meu exemplo e vai dar um pouco... Assim você cuida mais da sua buceta e deixa a das outras em paz – sorri cinicamente e puxei com força o portão, fechando-o sem me importar se isso arrancaria seus dedos – Morfética do caralho... Biscate pau no cu... Mas é uma maldita mesmo... – xinguei inúmeras vezes até chegar na sala me jogar no sofá. Porém, por mais que o filme fosse engraçado, nem ao menos sorri... Mas isso iria mudar, pois Fernando chegaria logo.
Hoje era dia de... “namorar”. Rio desse termo, pois soa como “ainda sou virgem, papai”. Eu ri tanto quando Fernando tentou conversar com minha mãe e pedir permissão para vir me ver. Eu disse que era bobeira e que não precisava de todo esse esforço, mas ele sempre me pedia pra manter uma boa relação com ela, e como filha de sangue, pelo menos deveria respeitá-la. Ele me fez prometer que tentaria por ele, e eu prometi, mas conviver com ela é... Complicado demais.
Assim que tomei banho, não demorou muito até ele chegasse.
- Oi princesa – sorriu triunfante ao emaranhar seus dedos em meus cabelos, encaixando-me, envolvendo-me e apertando-me contra seu corpo. Seu hálito fresco que roçava em minha boca e colo me fez deseja-lo no mesmo instante.
- Senti saudade – e senti mesmo. Meu corpo vibrava. Quando dei-me conta, minhas mãos já estavam em sua nuca. Mas eu não o beijei. Eu adorava ficar de certo modo provocando-o, apenas ameaçando encostar nossos lábios enquanto vislumbrava cada detalhe do seu rosto. Seus olhos que agora com a luz fraca estavam castanhos e dilatados. Seus cílios grandes e encurvados. O canto de seus olhos que enrugavam ao sorrir.  Seus poros abertos na área das maçãs do rosto. Algumas sardas pequeninas que tinha no nariz... Eu amava exatamente cada detalhe, cada um deles, sem exceção alguma. Sorri satisfeita ao aquietar minha ansiedade com uma dose de minha droga, e então, o beijei fogosamente, afogando-me de vez em seu calor. Minhas mãos envoltas em seu pescoço e seus braços fortes garantiam que eu não cairia ao envergar-me pra trás.
- Como você está? – perguntou ao passar os dedos na divisão do meu cabelo, penteando-os pra trás.
- Melhor do que nunca – peguei em sua mão e a beijei – Vamos lá pra sala.
Fernando e eu conversamos sobre nosso dia. Eu não disse nada sobre minha tia, então praticamente não falei nada, a não ser dos filmes que assisti. Já ele me contou algumas coisas engraçadas. A namorada de um dos novos funcionários foi exigir explicações ao descobrir que era traída.
- Ela começou a dar uns tapas na cara, cabeça, onde acertasse... – ele ria até ficar sem fôlego – Môr... ele tomou um tombo do cacete... Ele caiu de barriga e foi escorregando como se estivesse surfando – eu ria junto, talvez mais de suas risadas do que da história. Sua risada era contagiante – Ele foi muito frouxo – fez uma certa careta de desaprovação.
- Ah, mas ele mereceu, vai... Ninguém mandou trair... – ainda ria ao imaginar a cena.
- Mesmo assim, é assunto deles. Ele não deveria ter... Isso não se resolve na rua.
- Mas homem é cachorro mesmo!, um defende o outro até quando errado – fitei-o enquanto ria ao levantar e preparar algo para comermos.
- Não é isso... É que... Homem é homem – pra que ele disse isso? Pra me provocar?
- Por que homem é homem, Fernando? O que você quis dizer com isso? – disse como quem não quer nada. “Jogar verde pra colher maduro”, pensei – Por acaso você já me traiu? – não pude camuflar totalmente meu tom de confronto.
- Não... Para de falar besteira. Pra que eu faria isso? – disse meloso ao abraçar-me por trás enquanto eu lavava as mãos e fazia café.
- Hmmm – foi o que consegui dizer. Sempre que dizem algo mais que “sim” ou “não” pra mim, suspeito da resposta.
- Qual é? A gente vai começar mesmo uma discussão por conta disso? – disse grossamente e  largou-me.
- Não estamos – disse de cabeça baixa. Não valia mesmo apena brigar por isso – Olha... – Parecia que eu estava conversando comigo mesma, pois era a mais pura verdade – Desculpa por isso. Eu não sei como lidar com ciúmes. É que... Você é especial demais pra mim e eu tenho medo de perder a única pessoa que eu... – eu não acredito que ia dizer “que eu amo”. É cedo demais pra isso. Pigarrei e voltei minha atenção ao fogo, torcendo pra que ele não tivesse me ouvido.
- Que você o que? – perguntou como quem não quer nada. Eu apenas fingi que não ouvi, mas não pude deixar de sorrir – Que você o que? – tornou a perguntar. Fernando virou-me de frente pra si, levantando meu rosto, forçando-me a olhar seus olhos castanhos claros. Eu queria falar, mas minha garganta travou – Responda – ele sorria como se já soubesse a resposta, mas queria me fazer a gentileza de passar vergonha. Senti minhas bochechas corarem, atingindo seu propósito, e como vitória, Fernando soltou um risinho.
- É... – respirei fundo e desviei o olhar contendo um sorriso – Você não é bobo – e assim dei-lhe as costas e desliguei o fogo, pois a água já borbulhava.
- Não. Não sou mesmo – virou-me mais uma vez de frente pra si –  Mas você quem é. Tem vergonha de dizer pra mim o que sente e acha que eu sou doido em trair um mulherão desse – mediu meu corpo com seus olhos que queimavam e disse agora seriamente – Eu não sou esse tipo de homem que vai aceitar que você faça barraco no meu trabalho ou que faz loucuras de amor... Mas... Vou te proteger, cuidar e manter você na linha – piscou pra mim ao dizer o último item, na tentativa de descontrair o momento de declaração, fazendo-me sorrir. Ele realmente não era bom com palavras, pois demorou quase um ano para me dizer isso. Interpretando com outros olhos, ele também me ama.
- Parece até que você está fazendo votos de casamento, Fernando – disse brincando e nós rimos. Na verdade eu me identifiquei com essa frase – E se você fosse um desses homens frouxos, eu nem estaria com você – completei descontraída, dando um soco de brincadeira em seu ombro –  Eu quero alguém que cuide, proteja e mande em mim – disse agora séria – Eu nunca tive ninguém que fizesse isso por mim, e... Agora eu tenho.
- Vem morar comigo – isso me pegou de surpresa – Eu achei que a gente estivesse indo rápido demais, mas... Quer saber?, eu quero você. Ter você pra mim é tudo que eu quero agora...
- Agora eu não posso – não sei o motivo, mas nesse momento lembrei das palavras cortantes de minha tia. Meu peito começou a doer imensamente.
- Me avisa quando puder – ele desconversou. Talvez tivesse achado que eu não gostaria de morar com ele, mas não era isso, claro que não. Eu queria e muito, mas eu ainda era menor, e como conheço minha mãe, sei que ela faria um inferno na minha vida.
- Você é incrível, sabia?! – disse apenas para lembra-lo da mais pura verdade e dei-lhe um beijo no peito. Assim, voltei minha atenção à comida.
Nos comíamos pacificamente nossos sanduíches quando o leão acordou.
- Boa tarde – Fernando disse educado pra mulher que me deu a luz.
- Oi – disse rudemente ao caminhar para a cozinha. Como eu odeio isso.
- Tem um pão pra você no forno – disse indiferente, mas por dentro eu estava fervendo de raiva.
- E essa louça aqui, como que faz? – ela usava o mesmo tom da minha tia. Lembrei-me de novo de suas palavras. Malditas! Essas imbecis me perseguiam.
- Lava, ué... Ou deixa aí que eu lavo depois – que vergonha. Ela não podia nem ao menos respeitar meu namorado. Uma visita. Ela não respeitava ninguém. Sempre que podia, esfregava na minha cara sua superioridade e sua guarda sobre mim. Olhei pra Fernando e ele comia seu sanduíche de cabeça baixa, como se não estivesse ouvindo nada. Gentil da parte dele, pois não queria que eu me sentisse envergonhada, porém sem êxito, pois eu estava, e muito. “Eu não acredito”, pensei ao notar as lágrimas que estavam se formando. Limpei-as imediatamente assim que escorreram.
- Ei – Fernando colocou seu sanduíche no prato que estava na mesinha e puxou-me contra seu corpo – Quer dar uma volta? Vamos lá pra rua? – Eu apenas assenti e o segui.
- Mas que mordomia, agora vai passear – disse a bruxa. Eu estava contando até 93429340 para não manda-la tomar no cu na frente de Fernando.
- Sim, ela merece todas as mordomias do mundo, senhora – disse Fernando um tanto ríspido.
- Cala a boca que você está na minha casa, seu Zé Ninguém.
- Vai pra puta que pariu – explodi. Tudo bem me maltratar, mas ela não faria isso com ele – Quem vê pensa que você é um orgulho. Hoje sua irmã veio aqui, e eu disse que você estava desmaiada e ainda tive que ouvir merdas daquela vaca arrombada! – Fernando começou a puxar-me, mas eu me soltava – Que vocês duas se explodam! SE EX-PLO-DAM! – gritei lentamente, deixando-a com cara de quem comeu e não gostou.
- Chega! – Fernando disse com autoridade pra mim, puxando-me por uma ultima vez.
Fernando estava com o carro de Marcelo, não perguntei o motivo, pois ainda estava fula da vida. Nós entramos, mas ele não ligou o carro. Talvez quisesse que eu me acalmasse primeiro.
- Você me entende agora? – disse nervosa. Eu quase gritava com ele, mas ele não disse nada. Ele era compreensivo – Você está vendo? Por isso que eu não posso ficar com você. Imagine o inferno que essa bruxa faria se eu morasse com você sendo menor de idade – as lágrimas quentes queimavam minha pele, que parecia estar mais sensível que nunca. Meu ódio por ela só aumentava, pois ela era a única que me impedia de ser feliz. Se não fosse por ela, eu estaria junta de Fernando, em paz – Ai, meu Deus, como eu a odeio! – eu soluçava entre o choro, nem me importava em desmoronar na frente de Fernando – Como eu odeio ela e aquela irmã idiota dela – dizia a dar socos no painel.
- O que a irmã dela te fez? – perguntou com um semblante de dar medo. Eu congelei. Engoli meu choro na hora. “Merda”, pensei. E se ele fizesse merda com ela?
- Nada.
- Agora fala.
- Ela... Me... Resumindo, me chamou de puta, aproveitadora e burra.
- Por que de puta? – ele ia aprontar com ela.
- Fernando, você acha que eu estou me preocupando com ela? Eu quero que ela vá pra puta que pariu!
- Mas é claro que você está se preocupando – disse firmemente – Olha, te ver chorar por culpa da sua mãe, eu até aguento não dar uma surra nela, porque ela é sua mãe e se não fosse por ela, você não estaria aqui, mas deixar uma qualquer te fazer chorar, eu não vou – ele agora estava tão nervoso como eu estava antes.
- Fernando – voltei a chorar – Para de falar merda que você me deixa mais nervosa – tapei meus olhos e tentei chorar em silêncio, até que enfim, as mãos de Fernando me puxou.
- Em alguns meses você vai dar adeus pra essa gente – ele me aninhou em seu corpo. Eu sentei em seu colo de forma que a porta fosse meu encosto. Encostei meu rosto em seu peito, e chorei até que me acalmasse. Ele apenas afagava meus cabelos.
- Fernando... – disse ao levantar meus rosto. Meus olhos embaçados procuravam os seus.
- Fala – tirou delicadamente parte da minha franja que estava grudada em minha pele molhada por lágrimas .
- Promete pra mim que não é isso que vai separar a gente – tive vontade de chorar de novo ao me imaginar sem ele, mas me contive – Senti tanta vergonha por você presenciar isso, mesmo que você já tenha visto antes.
- Sua mãe nunca vai separar a gente, eu te prometo. Não é ela que vai te tirar de mim. Não é isso que vai me fazer desistir de você – suas palavras me confortaram imensamente. Ele beijou minha testa – Eu sei como é ter esse tipo de problema de família. Comigo também foi assim, mas olha... Tudo passa. Nenhum sofrimento é eterno. Nada é pra sempre.


domingo, 2 de junho de 2013

(cap8)

Meus olhos pinicavam por conta do sono, fazendo com que eu os esfregasse. Depois que fiz minha higiene matinal e tomei um belo café da manhã, resolvi limpar a casa. Organizei o guarda-roupa de Fernando – pois ainda havia algumas caixas para serem esvaziadas – e reorganizei o meu. Isso era meio que uma terapia ora mim. Não que fazer faxina fosse a melhor coisa do mundo, mas organizar, ocupar a mente com o vazio enquanto seu corpo trabalha é uma de minhas coisas favoritas. Assim que limpei todo o quarto, resolvi fazer o almoço, pois já eram 11hrs. Fernando não gostava de feijão, então decidi preparar arroz, salada de tomate e frango – que havia sobrado do churrasco. Assim que descongelado, comecei a desfiá-lo. Meus pensamentos viajaram pra longe durante esse tempo. Eu estava tendo a melhor vida de todas. Apenas acordar, limpar a casa, aguardar a chegada do homem que amo com a refeição na mesa... Nada que eu gostaria de mudar. Nesses últimos meses – meses que passei com Fernando – amadureci muito, pois antes eu era apenas uma adolescente inconsequente. Eu não me importava com nada e com ninguém, nem comigo mesma. Não me importava se algo acontecesse comigo, mas isso mudou. Ficar com Fernando é a prova viva de que um ser humano pode amar mais outra pessoa do que a si mesmo. Eu ainda era inconsequente, mas já deixei de fazer muita besteira com medo de magoá-lo, já dobrei meu ego várias vezes apenas para não discutir com ele. Já deixei de pegar para mim para poder dar para ele. Já achei que havia conhecido o amor antes de Fernando, mas hoje vejo que ele é realmente meu primeiro amor. E se tudo der certo, será o único. Talvez nem eu tenha noção de como o amo. O amo tanto que assim que ele chegou, tenho certeza que minhas pupilas se dilataram.
- Oi – disse sorridente ao enxugar as mãos num pano e logo jogá-las em torno de seu pescoço e beijá-lo rapidamente – Como você está?
- Eu estou bem e você? – disse um tanto monótono ao ajeitar uma mecha de cabelo meu que escapara do rabo de cavalo. Ele estava pensativo demais.
- Estou... – deslizei minhas mãos pela lateral do seu corpo, segurando em sua cintura – Mas você não está... O que foi que aconteceu? – Fernando repetiu o gesto de deslizar as mãos, mas ao em vez de deposita-las em minha cintura, agarrou meus pulsos.
- Nada. Só estou um pouco nervoso – libertou-me e caminhou até a pia, onde pegou a louça necessária e serviu-se. Eu resolvi não insistir nisso já que ele não queria conversar, mas seu o toque do celular quebrou o silêncio – Fala, caralho... – disse estressado. Enquanto isso eu apenas agia normal, arrumando a mesa – Não! E pare de me encher por besteira!... Se vira, porra! Essa é sua função, não minha! – e desligou. Sentou-se e comeu calado. Assim que me servi e sentei junto à ele, também comi minha refeição calada – Não é sua culpa. Desculpe por estar assim... – disse um tanto sem jeito.
- Tudo bem... – e estava mesmo. Comigo estava tudo bem, mas e com ele? – É... – queria conversar sobre isso, mas achei melhor não, então mudei de assunto – Como está a comida?
- Ah... – disse de boca cheia, sorriu e engoliu – É a melhor que já comi na vida.
- Mentiroso – ri de sua cara infantil e ele da minha – A gente precisa ir ao mercado.
- Se quiser, te levo e busco quando quiser.
- Você não pode ir? – queria ficar com ele.
- Mais tarde – ele mal mastigava a comida, engolindo-a com voracidade.
Fernando e eu conversamos sobre bobeiras enquanto ele comia uma segunda refeição. Coitado, estava faminto. E eu fiquei tão feliz por ele ter repetido. É uma satisfação muito grande quando gostam do que você fez com carinho.
- Acho que não precisarei voltar hoje. Vem deitar aqui comigo – disse ao caminhar até nosso quarto.
- Ah, não! Eu estou suada... E ainda tenho que terminar de arrumar a cozinha – fiz careta enquanto gesticulava pra toda aquela bagunça.
- Ah, qual é? – puxou-me pra si e beijando-me – Vem cá mesmo assim. E se você quiser nem precisa limpar isso.
- Você é bipolar? – ri – Você estava cuspindo fogo e agora parece uma mocinha – Fernando e eu nos jogamos na cama. Eu ainda aguardava sua resposta quando ele disse:
- Eu não estou mais tomando conta das biqueiras – disse sério e respirou fundo – Na verdade, estou administrando outras coisas... – ele olhava e acariciava minha coxa descoberta, que estava sobre seu quadril – Me chamaram pra ser irmão – as palavras jogaram de deus lábios depois de um tempo, pegando-me de surpresa – E eu aceitei – eu não sabia o que dizer, restando apenas a opção de assentir – Fala alguma coisa – induziu-me.
- Parabéns?! – disse em dúvida. Fernando fez uma feição de desgosto. E eu o entendo, mas não era isso o que eu queria dizer – Quero dizer... – chacoalhei a cabeça na tentativa de procurar as palavras certas – Eu fico feliz por você, mas... Eu tenho medo. Eu sei o que isso significa...
- Eu entendo... Entendo mesmo – sorriu ao acariciar meu rosto. Como era bom isso.
- Por isso que você está assim? Essa... Pressão toda? – apertei-o contra meu corpo com minha perna.
- Não é fácil, sabe... – seu tom de voz tinha culpa –  Matar nunca será uma rotina... Mas... Ah, chega, não quero mais falar sobre isso – disse com uma expressão fechada. Ele desviou seu olhar por alguns segundos para algo qualquer no quarto – É o que eu sou e o que eu faço... Se você não gosta, vai embora – disse um tanto arrogante.
- Mas que saco, Fernando – tirei minha perna de sua cintura e sentei na cama. Como eu estava nervosa – Para de colocar palavras na minha boca que eu não disse nada disso! Eu só não quero te ver assim – apontei pra ele – Só estou tentando ser gentil com você, demonstrar que me importo e você me dá essa patada. Faz o que você quiser e fica aí – agora eu já estava passando pela porta e ele veio atrás de mim.
- Você está certa... – puxou-me pelo braço. Era até engraçado de se ver, pois ele não era bom em pedir desculpas.
- Fernando... – respirei fundo e coloquei minha mão em seu ombro – Eu não quero discutir por coisa besta... Mas você precisa se controlar mais.
- Ahhh – bufou – Os conselhos da mais calma da favela – ironizou.
- Eu não sei o quê você passa lá em cima, mas... Porra, Fernando, eu estou aqui de boa esperando por você, preparei seu almoço... Pra você descontar seus problemas em mim? Eu sou sua mulher – comecei a dar leves empurrões em seu tórax. Eu estava começando a perder a paciência – Eu estou aqui pra ajudar você. Se você tem um problema, eu quero te ajudar a resolver e não ser seu saco de pancadas. Vai brigar com um dos favelados que você comanda e não comigo.
- Você se acha tão inteligente, mas é tão inútil – empurrou-me.
- Ah!, vai se foder, seu imbecil – disse num tom mais alto e devolvi o empurrão com mais força.
- PARA COM ISSO – gritou ao agarrar meu pescoço e prensar-me contra a parede – Para de me provocar que hoje eu faço besteira – disse entredentes.
- FAZ! – gritei ao afastá-lo de mim – FAZ QUE HOJE EU ACORDEI DISPOSTA A FAZER BESTEIRA TAMBÉM – refleti por um segundo nessa briga idiota e por fim disse – Ah Fernando, larga mão de ser besta! Vai deitar que eu tenho mais o que fazer – sai de perto dele e fui até a cozinha, terminar minha tarefa. Pelo jeito ele também desistiu, pois bateu com força a porta do quarto.
Pude arrumar tudo em menos de duas horas. Fernando estava dormindo quando entrei no quarto para pegar roupas limpas. Agora eu só teria que lavar o banheiro e tomar um banho. Era realmente bom morar em uma casa de poucos cômodos. E também não havia necessidade que cômodos grandes para Fernando e eu. 
Depois de tudo limpa e já trocada, deitei-me gentilmente ao lado de Fernando. Vislumbrei seu rosto – mais parecia ser esculpido por anjos – que trazia uma expressão doce e suave. Senti pena dele. Não deveria ser fácil fazer o que ele faz. Matar, torturar, levar, buscar... Ter que fazer tudo o que lhe mandassem. Dá pra entender porque ele está assim. Aninhei meu corpo junto ao dele e em troca recebi o aconchego de Fernando.
- Vem aqui, meu amor – encaixou meu corpo no dele – Meu doce amor... - e beijou minha testa.
- Eu amo você, briguento – eu sempre gostei de homens bravos, e me apaixonei pela fúria de seus olhos cor de fogo, mas era impossível não amar o doce e gentil Fernando.
- Eu sei – rimos. “Doce, gentil e convencido” reformulei a frase em meu pensamento – E eu também te amo, gostosa. Olha, bem que você poderia começar a fazer faxina todos os dias e usar esses shortinhos curtos – deu-me uma palmada ao beijar e morder meus lábios, puxando-os no fim.
- Pode deixar que vou usá-los mesmo quando não fizer faxina – joguei minha perna sobre seu quadril, atravessando-o. Apertei seu corpo contra o meu.
- Ah, quando você não fizer faxina, pode ficar sem roupa alguma – disse levantando minha camiseta, cobrindo apenas meus seios. Ele passava sua mão em meu corpo com um tanto de ansiedade, fazendo com que minha respiração ficasse acelerada.
- Mô... – disse ao encostar minha testa na dele e deslizar meus dedos em seus cabelos curtos. Era possível sentir sua respiração quente em meu queixo e colo. Fernando ergueu seus olhos na altura dos meus, que antes estavam em meus lábios – Me beija – essas duas palavras saíram num sussurro que era quase impossível de se ouvir, mas Fernando ouviu.
Fernando colou seus lábios nos meus, beijando-me feroz e docemente – esse era um dos melhores tipos de beijo, pois parecia que ele queria meu corpo o mais rápido possível, mas tinha cuidado o suficiente ao manusear-me. Suas mãos – rápidas e ágeis – guiaram meu corpo para que ficasse sobre o seu. Encaixei seu corpo entre minhas pernas, e minha fome por seu calor não permitiu que meus lábios e mãos se desgrudassem de sua carne. Suas mãos apertavam meus quadris e cintura de forma fogosa enquanto pressionava minha intimidade contra a dele. O arrepio de excitação iniciou-se em minhas mãos e percorreu meus braços, até chegar em minha coluna. Fernando apertava a pele de minhas costas, num pedido para que eu tirasse minha camiseta. Separei nossos troncos e o encarei de cima enquanto agarrava o pedaço de pano e o deslizava sobre meu corpo. Fernando sentou-se rapidamente antes que o tecido chegasse em meus ombros, encarando e acariciando meus seios. Assim que fiquei com o peito completamente descoberto, inclinei minha coluna para trás, apoiando minas mãos na cama. Fernando tirou sua camisa e fez o movimento oposto, chegando até mim. Uma de suas mãos estava em minhas costas, segurando-me com firmeza, enquanto a outra apertava um de meus seios. Ele encurvou sua coluna, para que pudesse beijá-los. Minhas mãos agarraram sua cabeça, guiando seus beijos para meus lugares favoritos. Ele os apertava, beijava, chupava e mordiscava com tanta lentidão e força que não pude conter alguns gemidos. Aquilo era uma tortura – deliciosa –, pois eu queria que ele me penetrasse o mais rápido possível. Apertei minha intimidade contra a de Fernando na tentativa de acalmar minha impaciência, mas toda minha calma foi embora quando senti seu membro rígido.
- Essa calça está me irritando – disse um tanto bravo ao tirar-me de cima de si, deitar-se e desabotoar a mesma, tirando-a rapidamente junto de sua cueca.
Deslizei minhas mãos por seu corpo, enquanto encaixava-me e puxava-o pra perto de mim como antes. Assim que cheguei até seu membro e comecei a apertá-lo. Alguns grunhidos saíam dos lábios de Fernando quando comecei a masturba-lo. Eu também o torturaria, pois meus movimentos eram circulares e rápidos. Fernando inclinou a cabeça para trás enquanto apertava minhas coxas. Eu vislumbrava todo seu corpo perfeito – era possível notar que seu corpo estava mais musculoso depois que começou a frequentar a academia. E era difícil de acreditar que toda essa perfeição era apenas minha – e por mais que quisesse transar com ele o mais rápido possível, estava decidida a dar todo o prazer possível pra ele antes disso. Fernando agarrou meus pulsos, interrompendo-me e encarou-me um tanto nervoso, ansioso e cansado. Suas sobrancelhas estavam unidas em sua expressão confusa.
- Tira logo esse short – disse ao pressionar minha intimidade contra a dele, e eu obedeci na hora.
Apoiei-me em seus ombros e fiquei em pé na cama. Como estava de pijama, foi bem fácil tirar o short, e assim que o tecido chegou em meus joelhos, Fernando agarrou uma de minhas coxas, descendo o resto do tecido, segurando-me firmemente para que eu pudesse ficar em um pé só e não caísse. Seus olhos acompanharam com atenção esse percurso até que apenas minha outra perna ficasse com o short, e assim feito, suas mãos percorreram minha coxa até chegar em minha bunda. Fernando puxou-me pela cintura e eu sentei em seu colo de forma que ele ficasse entre minhas pernas enquanto eu estava de joelhos. Ele segurou seu membro, guiando-me e encaixando nossos corpos. Comecei a gemer no mesmo instante, pois estava recebendo o que tanto esperava. Meu corpo movia-se com naturalidade sobre o de Fernando. Suas mãos apertavam minha cintura enquanto eu envolvia-o em meu colo. Nos encaramos e sorrimos um para o outro em meio ao nossos gemidos. Fernando mordia meu ombro e pescoço, e em troca ganhava arranhões em suas costas. Peguei uma de suas mãos e emaranhei em meus cabelos, num pedido que ele os puxasse, e assim o fez.  Fernando puxava meus cabelos, levantando meu rosto, dando passagem para que ele mordesse meu maxilar e beijasse minha garganta. Meus gemidos eram um tanto ardidos, pois meu corpo todo queimava. Fernando deitou e apertou toda a lateral de meu corpo enquanto eu rebolava e quicava rapidamente sobre seu corpo. Certas vezes ele também movia seu quadril junto ao meu, para que nossos movimentos fossem mais intensos. Inclinei meu tronco em meio aos meus movimentos e mordi seus lábios. Num gesto rápido e prático, Fernando inverteu nossa posição, ficando por cima de mim, levantando uma de minhas pernas e penetrando-me com força. Suas mãos percorreram a lateral do meu corpo inúmeras vezes. Eu fechei os olhos e abri minhas pernas o máximo possível, pois estava prestes a gozar. Meus gemidos – agora mais altos – fez com que meu corpo se arrepiasse. Assim que abri os olhos, vi que Fernando encarava-me de forma minuciosa e luxuosa. Ele subiu uma de suas mãos até meu rosto, tocando meus lábios com seu dedão, enfiando-o em minha boca e eu chupei-o. Fernando encaixou seu rosto entre meu ombro e pescoço e começou a urrar em meus ouvidos. Seus movimentos ficaram um pouco mais lentos e profundos até que ele gozou dentro de mim e deitou-se ao meu lado.
- Você foi incrível – disse pra mim depois de alguns minutos. E eu sorri.
Nós ficamos algum tempo nos olhando e logo Fernando levantou-se e voltou com um cigarro de maconha. Eu estava do meu lado da cama, de barriga para cima e Fernando deitou-se de modo que nossos corpos formassem um “T”, fazendo de minha barriga seu travesseiro. Eu acariciava seus cabelos enquanto ele fumava lentamente.
- Toma – disse entregando-me a droga. Fernando soltava a fumaça lentamente. Alguns tossidos escaparam de seus lábios.
Fumei lentamente, sentindo a textura, o sabor e me divertindo com a fumaça que escapava de meus lábios. Na segunda vez que fumei e também tossi. Meu corpo relaxou no mesmo segundo, dando prioridade aos meus pensamentos. Olhei pra Fernando e ele já me encarava. Entreguei o cigarro.
- Do que você mais gosta? – ajeitei-me para que pudesse olhá-lo melhor.
- De quê? – perguntou confuso.
- Na cama – fui direta.
- Ah... – ele olhou pra parede, talvez na tentativa de se concentrar – Eu gosto de ficar por cima... – ele me encarou e pude ver que seus olhos brilhavam. Eu fiquei calada para que ele continuasse – Gosto de... – deitou-se de lado e começou a passar a mão em meu corpo – Quando você geme de olhos fechados. Gosto de quando a gente faz sexo sem combinar...
- Como assim? – perguntei interessada.
- Por exemplo, você está fazendo o almoço e a gente começa a trepar – não pude deixar de sorrir – ou em qualquer lugar fora da cama – ele observou o cômodo – Não... também gosto de te comer aqui – e logo beijou meu umbigo – E você?
- Quando... – “não acredito que vou dizer isso”, pensei – Você... Me dá uns tapas ardidos ou puxa meu cabelo – pude sentir que corei de leve.
- Eu percebi isso... Já tem um tempo – ele sorriu e eu retribui – Você gosta muito?
- Muito – fiquei envergonhada.
- Ei, não precisa ter vergonha de mim... – disse aproximando-se, ajeitando-se ao meu lado.
- Não tenho... Não de você. É que... Nunca tive esse tipo de conversa.
- Você foi a primeira que perguntaram o que gosto – sorriu (e que sorriso).
- Mas... Continua. Do que mais?
- Eu gosto das preliminares. Quando você me deixa fazer besteiras com você. Gosto da forma que você me deixa te manusear... Esse seu jeito de menina me deixa louco – ele dizia isso mordia os lábios, ME deixando louca.
- Eu também gosto disso. Quando você me mostra o que sabe. Eu gosto mais de “obedecer do que mandar”. Gosto de quando você me mostra quem manda – encarei-o.
- Você gosta disso, então? – puxou uma de minhas pernas pra si, encaixando-se em meu corpo. Fernando emaranhou seus dedos em meu cabelo, puxando-os, levantando meu rosto – Gosta disso? – perguntou mais uma vez num tom de ordem.
- Me deixa louca – disse de olhos fechados sem fazer movimento algum, pois o tesão era tão grande que eu esqueci como se respirava.
E logo nossos gemidos de novo estavam no quarto. 

terça-feira, 28 de maio de 2013

(cap7)


 Depois de umas três horas, o dinheiro estava organizado.
- Vocês estão com fome, não estão?! – disse ao levantar-me e lavar bem as mãos – Vou fazer café pra gente enquanto a janta não sai – peguei tudo o que precisava. Já estava quase no horário da janta, mas meu corpo exausto pedia por cafeína.
- Não... A gente precisa mesmo ir. Temos que levam este dinheiro – eles empacotaram o dinheiro e conversaram por alguns minutos com Fernando. Assim que saíram, eu já tinha arrumado a mesa.
- Estou tão cansado – disse Fernando ao esfregar os olhos enquanto eu o servia café. Fiz o mesmo pra mim. Fernando comia pão de forma com manteiga. Eu mordiscava uma bolacha de chocolate – O que foi, esfomeada... Está com tanta fome assim?
- Nada, não – sorri – Quero dormir... Minha cabeça está explodindo – deixei minha refeição e tomei logo dois analgésicos. Isso me daria sono.
- Não precisa fazer janta. Vai descansar – disse de boca cheia.
- Não vou te deixar sem comer...
- Eu acabei de comer. Se tiver fome mais tarde como outro pão. Vai deitar.
Eu assenti e caminhei até nosso quarto. Peguei uma toalha e roupas de dormir. Assim que comecei a escovar meus dentes, Fernando abriu a porta, deixando um ar congelante entrar junto de si.
- Vem cá, amor? – disse com a boca cheia de espuma. Enfiei minha cabeça embaixo do chuveiro para que a enxaguasse. Fernando despiu-se e abraçou-me. Nossos corpos estavam colados enquanto ele me encarava e passava seus polegares em meus olhos – como no meu sonho – mas isso era realidade. Ele afastou com gentileza meus cabelos molhados que estavam grudados em meu rosto. Depois de encarar-me por alguns segundos, disse ao sorrir.
- Você é tão linda – não pude conter um sorriso – Eu não sou bom em falar sobre sentimentos, mas... – ele procurava as palavras certas, pois abria e fechava a boca varias vezes – Eu te amo tanto... E não imagino ninguém melhor na minha vida além de você – apertei-o contra meu corpo – E eu vou fazer de tudo pra te dar do bom e do melhor.
- Eu não estou com você por isso, Fernando. Eu amo você de qualquer jeito – disse enquanto meus dedos percorriam o caminho de sua clavícula e eu os observava. Não conseguia olhar em seus olhos, pois tinha vergonha de dizer isso. Este era um de meus pensamentos mais profundos e sinceros - Não importa se morarmos no Leblon, numa favela ou sob uma ponte. Eu te amo. Amo apenas você, e  é apenas você o que eu quero. É clichê, mas é o que sinto – encostei minha testa na dele.
- Você sempre sabe o que dizer...
- Mas eu sei te amar melhor do que qualquer outra coisa no mundo – sorri ao encará-lo – Eu... – respirei fundo – vou pra cama, te espero lá – beijei-o lentamente e saí.
Assim que deitei, praticamente desmaiei. Fernando foi gentil em deitar-se junto a mim sem acordar-me, pois agora o sol da manhã estava em meu rosto. 


domingo, 19 de maio de 2013

Aviso

Eu mal tenho postado, pois ultimamente ando sem tempo, porém não abandonarei meu blog. Estou tentando organizar meu tempo para poder escrever mais e logo postarei um capítulo longo.
Eu realmente gosto das minhas personagens e penso em transformar a garota em prostituta. Ainda não decidi sobre isso, mas tenho o desfecho formulado desde o primeiro dia que resolvi escrever sobre esta história. Bem, é apenas isso. Aqui eu compartilho tudo aquilo que mais prezo numa história ;) Beijinhos.

(cap6)




- Eu não decidi ainda – disse passando meus dedos em meus cabelos e enfim afundando meus braços na água morna – Eu não sei o que dizer...
- Bom, eu acho que... – ele fez uma pausa ao ensaboar meus ombros – Você deveria dizer adeus – ele respirou fundo tentando concentrar-se no que fazia.  Ele arregaçou ainda mais as mangas da camisa social rosa clara que usava. Ele estava tão lindo...
- Mas eu já disse – encarei-o confusa – Pra tudo e todos... – disse em dúvida, procurando alguma brecha em suas palavras que ecoavam em minha mente. Do quê ele estava falando? Fernando levantou seus olhar ao meu encontro.
- Você deveria dizer adeus pra mim – desviou seu olhar tristonho e atirou a bucha na água. Nenhuma reclamação saiu de meus lábios – Deite-se. Lavarei seu cabelo.
Deitei-me lentamente até que somente meu rosto ficasse fora da água. Fernando passou seus polegares úmidos em meus olhos, fechando-os. Respirei fundo, sentindo cheiro de sangue. Abri meus olhos e segurei na lateral da banheira, dando sustentação para levantar-me, mas as mãos de Fernando me afundaram. No mesmo momento a banheira explodiu – como um balão d’água – e cai nua sobre a grama, onde a única coisa que estava sobre meu corpo era sangue. Passei minhas mãos em meu rosto, na tentativa de limpar a gosma. Não pude conter um grito, que queimou minha garganta ao ver o corpo Fernando aos meus pés. As lágrimas de sangue que escorriam, queimavam minhas bochechas. Eu demorei muito tempo até alcançar seu corpo, que estava próximo ao meu. Ele estava de costas pra mim e assim que virei seu corpo, vi que ele era o homem que eu tinha matado. 
Assim que acordei, senti meu estômago queimar. Fernando dormia profundamente ao meu lado. Levantei-me silenciosamente e caminhei até a cozinha. Comi algumas bolachas enquanto vislumbrava as luzes da cidade grande. Ouvi passos até mim.
- Por que você está no escuro, sua doida? – perguntou-me risonho ao acender a mesma. Ameacei responder, mas Fernando calou-me com um beijo intenso – Desde que chegamos, não tivemos a chance de ficar sozinhos, e quando tivemos... Bem – mostrou-me um cubo preto que agora equilibrava na palma de sua mão.
- O que é isso? – perguntei sorrindo ao pegar o objeto e abri-lo – Oh, meu Deus, Fernando – sorri de orelha a orelha.
- Bem, as coisas estão melhorando, e de agora em diante você terá apenas o melhor – explicou-me enquanto prendia em meu pulso um rolex feminino e então beijou-me fogosamente. Assim que deitamos, dormimos imediatamente. Eu fiz questão de dormir com o relógio.

- Amor, você pode dar uma ajuda pra gente, lá em baixo? – Fernando perguntou-me assim que afastou o telefone de sua orelha. Eu apenas assenti – Ela vai... Fala pra Dan colar com ela... Beleza – e desligou o telefone – Eu tenho que ir... Trabalhar – era uma ironia esta última palavra.
- Certo, pelo jeito eu também – sorri como uma boba. Sua beleza me tirava o fôlego.
- Não tem problema mesmo você ir? Quero dizer, não precisa se não quiser...
- Eu quero – respirei fundo – Vai ser bom voltar à ativa depois de meses – sorri e dei um soco de brincadeira em seu braço.
- Hmm – Fernando encarou-me com olhos semicerrados e envolveu-me em seus braços, prensando-me contra seu corpo. Assim que desci minhas mãos por suas costas, senti o revolver preso em sua calça – Só fique longe de encrenca, e se algum verme encostar em você, disfarce – disse um pouco sério demais – Eu te conheço, não quero que me liguem dizendo que você saiu no tapa com polícia...
- Alá, metendo o loco de que eu não sei como funciona – zombei, fazendo-o rir – Pode deixar, Senhorita Medrosa, você não terá que separar nenhuma briga minha – e assim beijei-o com voracidade e logo eu estava sozinha.
Depois de mais ou menos uma hora, já estava arrumada. Tranquei a porta e desci as ruas estreitas da favela até a biqueira onde Dan estaria me esperando.
- Chegou a patricinha – Dan sorriu ao ver-me. Seu corpo robusto e baixo vestia jeans, camiseta e tênis. Ela ainda usava o mesmo tom de loiro – Deu adeus aos parças depois que casou – zombou-me.
- Ah, é assim – disse rindo – Vida de casado é uso de coleira mesmo, amiga – assim que me aproximei por completo, pude abraçá-la. Dan e eu nos conhecemos a uns 3 anos. Ela é louca e fiel. Principalmente louca.
- Tudo bem, princesinha. Já sabe o esquema. Mas enquanto está suave, a gente pode trocar ideia. Vem cá, a coisa está séria entre você e Fernando – riu de forma maluca – Logo vai ter filho – disse assim que sentamos na guia – Quer? – Ofereceu-me um cigarro que eu aceitei.
- Ah, não viaja, porra! – ri – Você tá ligada que não vai dar pra gente ter filho... – não precisei terminar a frase, pois ela entendeu. Como pais bandidos cuidariam de uma criança? – É, mas nosso relacionamento está sério mesmo – ela respondia uma mensagem no celular.
- Falando no viado – disse rindo – Quer saber se você está “dando trabalho” – disse as ultimas palavras como uma pessoa demente – Mano, vai se foder! – rimos – Você fica ligada – disse séria depois de alguns minutos de conversa, entregando-me um revolver, que coloquei em meu jeans – Aqueles também são daqui – apontou mostrando-me quem estava trabalhando conosco – Bem... Não tenho que te explicar o blá blá blá, porque você já conhece o esquema.
- Suave – alguns minutos depois um gol preto parou onde estávamos. Como Dan estava ocupada, resolvi cuidar deste.
- Oi – uma moça japonesa disse ao abrir a janela. Eu encarei-a de cima à baixo várias vezes pra ter certeza que era seguro, e aparentemente era. Assenti para que ela continuasse – Você tem crack?
- Quanto? – aproximei-me da janela.
- Quero 5 – Enquanto ela me esperava, fui até o terreno e busquei os mesmo.
- R$ 25,00 – disse num tom monótono. Ela me pagou em notas de R$5,00 e R$2,00, e logo entreguei a droga e ela voltou de onde veio.
Até umas 15:40hrs foi simples, mas Dan e eu notamos um alvoroço quando alguns rojões explodiram. Em poucos minutos algumas pessoas correram até nós. Assim que entendi o que se passava, descartei o revólver e minha pochete num buraco já premeditado para este tipo de situação e corri rumo ao topo do morro. Não via Dan, porém mesmo assim corri o máximo que pude.
- PERDEU, PERDEU! – um grito grave surgiu atrás de mim. Meus olhos quase pularam de meu rosto – MÃOS NA CABEÇA – e eu não fui idiota de não obedecer – Por que fugiu, princesa? – perguntou-me enquanto revistava-me – Tem identidade?
- No meu bolso direito – disse ao conter-me. Minha vontade era enfrenta-lo e dizer “o rg da princesa está na buceta dela, seu filho da puta, mas se você pegar, o macho dela te mata”. Virei-me e encarei-o. Na casa dos 40, loiro, baixo e de fato acima do peso.
- Você é?...
- Moradora – completei.
- Certo... E por que correu? – ele me encarava, procurando algum motivo pra me prender.
- O Sr. Sabe como é... – fingi o máximo de inocência possível – Correria... Traficantes... Tiroteios. Bem, fiquei apavorada.
- Hmmm... Pode ir – disse ao entregar-me meu rg.

Corri até a vala onde joguei a arma e o dinheiro. Apanhei-os e andei o mais rápido possível até minha casa, sem despertar curiosidade de quem me via.
- O que aconteceu? – Fernando perguntou-me assim que abri a porta. Meus olhos estavam arregalados.
- Me enquadraram – disse e logo ri – Amor, eu quase tive um treco por dentro – disse enquanto colocava a arma no criado e entregava a ele o dinheiro.
- É isso oque dá em fazer coisa errada – disse Marcelo ao caçoar-me. Ele, Fernando e Rogério estavam sentados contando pilhas de dinheiro que estavam espalhadas sobre a mesa.
- Ah, disse o santo – caçoei-o e todos riram - Deveria ter medo dos vermes invadirem isso aqui e ver o senhor com esse monte de dinheiro.
- Será que eles vão? – perguntou-me Rogério
- Acho que não. Eles mal saíram do pé. Querem ajuda? – perguntei e Fernando puxou uma cadeira pra mim – Montes de quanto?
- De cem – disse num tom monótono.
- Você viu a Dan? – perguntei a Fernando.
- Ela sumiu? – olhou-me por um segundo e voltou sua atenção às notas
- Eu... me perdi dela, mas... acho que ela se vira – disse isso pra mim mesma. Ela tinha que fazer.
Nós ficamos umas 2 horas até que todo o trabalho fosse feito. Como era dinheiro de drogas, eram muitas notas de valores baixos, oque apenas prolongou a contagem.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

(cap5)



[...]– disse levando-me à cozinha, sentando-me numa das cadeiras e servindo-me uma tigela com frutas. Arregalei meus olhos. Minha garganta doía tanto ao engolir saliva que seria como engolir pedregulhos ao engolir qualquer tipo de comida.
- Não quero – disse indiferente empurrando a tigela. Meu corpo ainda estava sobre efeito do analgésico, pois não tem nem 6 horas que eu os tomei. Não me olhei no espelho essa manhã, mas sei que estou roxa, pois posso sentir que a região perto do meu olho está um tanto inchada. Fernando não tinha comentado nada sobre isso, pois sei que estava tentando evitar discussões, pois seus olhos tremeram quando me viu essa manhã.
- Hmmm – disse semicerrando os olhos e fazendo uma expressão que eu não pude entender. Ele tinha matado a charada – Deixe-me ver isto – disse sério ao aproximar-se e afastar meus cabelos que estavam soltos. Seus olhos se arregalaram. Por que ele teve que fazer isso? Fingir que nada aconteceu era melhor – Meu Deus... Isso está horrível!... Está cinco vezes pior que seu rosto! – seu olhar preocupado transformou-se em raiva – EU IRIA ATÉ O INFERNO SÓ PRA MATAR AQUELE FILHO DA PUTA UMA SEGUNDA VEZ – gritou ao atirar a tigela com frutas (agora espatifada) na parede. O susto foi tão grande que quase senti medo. Fernando foi até uma das caixas e pegou uma garrafa de uísque, encheu pelo menos duas doses num copo e tomou tudo em poucas goladas. Notei que seus olhos lacrimejaram – Eu vou te dar maconha para que você relaxe um pouco – disse e fez sinal para que eu o seguisse. “Não sou apenas eu quem precisa relaxar”, pensei, mas resolvi ficar quieta, pois não queria irritá-lo ainda mais. Fernando tirou um saquinho que continha maconha de uma das caixas, deitou-se na chaise e puxou-me pra si, aninhando nossos corpos e logo jogou um cobertor sobre nós que sempre ficava no encosto do sofá.
- Pega, amor – disse entregando-me a droga já enrolada no papel e junto um isqueiro. Depois que fumei algumas vezes, pude sentir meu corpo relaxar profundamente e assim entreguei o mesmo para Fernando que também fumou. Ele ergueu meu rosto para que eu o olhasse – Eu te amo demais – disse e logo em seguida beijou-me lenta e profundamente. Enquanto nossas línguas moviam-se em sincronia, uma de suas mãos segurava a maconha, a outra acariciava meu rosto, onde eu tinha levado a bofetada. Nós nem prestávamos atenção na tv. Eu envolvi meus braços em seu pescoço – Espere – disse durante nosso beijo e rompendo o mesmo. Ele acendeu mais uma vez a droga, fumando-a e assim segurando meu rosto de forma que eu sugasse a fumaça que saía de sua boca. Eu adorava quando ele fazia isso. Fernando agora estava com suas mãos livres, podendo apertar-me contra seu corpo. Seus apertos eram tão fogosos que me enlouqueciam rapidamente. Fernando ergueu impaciente minha camiseta até o limite, mas não quis tirá-la por conta do frio. Dando-se por vencido, apenas contentou-se em apalpar um de meus seios enquanto chupava e mordiscava o outro. Ele esgarçava o tecido, puxando a gola para que pudesse beijar e morder a pele de meu colo deixando-me nervosa, fazendo com que eu cedesse e tirasse a mesma. “Esse filho da mãe me paga”, pensei ao tirar sua camisa. Em troca, Fernando apenas me encarou com seus olhos cor de fogo e era possível notar que o fogo não estava apenas em seus olhos, pois assim que desci minhas mãos, pude sentir sua ereção, fazendo com que meus pelos se eriçassem. Em pouco tempo fiquei completamente excitada por seus toques e logo minha calça e calcinha estavam jogados nos pés do sofá. Desci minhas mãos impacientes pelos ombros e braços de Fernando, sentindo sua pele macia queimar sob meus dedos. Meus beijos percorreram várias vezes o caminho da boca para o maxilar de Fernando e logo mordi a ponta de sua orelha.
-Me come logo... – arfei.
Por estarmos de lado, nossos movimentos eram um tanto limitados. Assim que Fernando ficou nu, joguei uma de minhas pernas sobre seu quadril, dando espaço suficiente pra que Fernando me penetrasse e quando assim o fez, minha intimidade ardeu deliciosamente. Essa posição dependia mais de meu esforço do que de Fernando e assim afastei meu tronco e enquanto envergava minhas costas e comandava os movimentos de vai e vem, ele apertava fortemente minha cintura enquanto mordia o lábio inferior e encarava nossa intimidade. Pude notar que não estávamos mais cobertos, mas o frio não me afetava, pois as gotículas de suor já estavam sobre nossos corpos. Eu estava quase tento um orgasmo, pois os pelos da minha coxa se arrepiaram. O prazer que Fernando me dava inundava-me de forma tão profunda e perturbadora que era quase insuportável. Enfiei minha cabeça entre o sofá e o ombro de Fernando, assim abafando meus gemidos que estavam um tanto mais altos que o normal. Ele puxou-me pelos cabelos e encarou minha face de prazer com uma feição um tanto brava, pois suas sobrancelhas estavam franzidas e seu maxilar contraído. Seus olhos vislumbravam-me a ponto de me deixar constrangida. Eu sabia que ele gostava de me ver gemer pra ele, por ele. Assim que gozei, meu quadril começou a tremer levemente, pois Fernando ainda estava dentro de mim e por sua expressão, estava longe de acabar.
- Vamos trocar? – perguntei com a voz falha. Fernando emaranhou seus dedos em meus cabelos, enfiando minha cabeça entre seu ombro e o sofá, da mesma forma que eu tinha feito antes para que agora colocasse os lábios em meu ouvido.
- Cavalga no meu pau, amor – disse num tom baixo de ordem. Ele provavelmente queria me matar. Fernando puxou-me com tanta pratica que agora eu já estava sobre seu corpo, ajeitando-me e enfim quicando. Apoiei minhas mãos sobre seu tórax e em certos momentos, inclinava-me e beijava-o. Suas mãos estavam sobre minhas coxas, apertando-as. Certas vezes, Fernando dava-me tapas ardidos enquanto fechava os olhos. Quando encarei nossos corpos, notei que fagulhas formavam-se aos nossos toques. Eu deveria estar muito louca, pois era como o início de um fogo. Por curiosidade, inclinei-me novamente e acariciei o rosto de Fernando em meio os movimentos do meu quadril. Sim, nossos toques continham fagulhas. Sorri ao ver essa imagem curiosa e como se fosse combinado, Fernando abriu os olhos e sorriu. Beijei-o com tanta voracidade que fiquei sem fôlego. Eu já não podia sentir meu corpo, pois provavelmente tinha gozado umas três vezes. Meus gemidos agora mais pareciam calafrios. Meu corpo todo tremia sobre o de Fernando. Assim que ele percebeu isso, mudou nossa posição de forma rápida, ficando sobre mim. Fernando envolveu-me com seus braços longos, para que pudesse penetrar-me mais a fundo e com mais rapidez. Ele urrava aos meus ouvidos, enquanto meus gemidos mais pareciam gritos, secando minha boca por completo. Eu não sabia o que fazer, apenas mordia a pele de seu ombro em quando recuperava meu fôlego. Não conseguia controlar meu corpo, que retorcia sob o de Fernando. Ele desceu suas mãos pela lateral de meu corpo enquanto diminuía gradativamente a velocidade. Assim que Fernando gozou, pude sentir meu corpo amolecer. Ele beijou-me lenta e docemente até que decidiu libertar-me e encarar-me com seus olhos castanhos, agora no tom habitual.
- Você não aguenta nada – disse num tom brincalhão, fazendo-me rir. Eu não tinha energia nem ao menos pra fazê-lo direito.
- Ou é você quem tem demais – conclui. Peguei minhas roupas e vesti, enquanto Fernando fazia o mesmo. Eu não queria nem ao menos tomar banho, minha única vontade era de dormir – Eu estou dizendo... Um dia você me mata – disse ao aninhar meu corpo ao de Fernando e em troca ganhei uma risada calorosa, como um dia de verão. Fernando nos cobriu. Sua mão impaciente ergueu minha camisa até os meus seios, e seus dedos gelados começaram a percorrer minhas costelas, fazendo desenhos abstratos. A respiração de Fernando e a programação da tv foi ficando cada vez mais baixa, até que adormeci.

- Só faltam essas agora – a voz de Fernando ficava cada vez mais alta até que acordei por completo – Vou chamá-la. Leve minha moto que eu preciso do seu carro, pois ela vai pegar coisas na casa da mãe dela.
- Onde estão as chaves? – perguntou Rogério – Ok, até mais – e a porta foi fechada.
- Dormi demais? – perguntei num tom mole, esfregando os olhos.
- Umas 6 horas, mas você precisava descansar... – disse ao sentar-se – Suas roupas já estão no carro, agora você precisa pegar suas coisas na casa da sua mãe... – disse delicado, acariciando meu rosto.
- Você ainda não me disse pra onde nós vamos – disse num tom infantil.
- Nós vamos morar morro – disse sorrindo. Pra um bandido, a favela é o lugar mais seguro.
- Então, nada de “Alison”?!... – perguntei sorrindo. “Alison” era o nome falso de Fernando. Ele usava esses documentos quando precisava alugar casas, ou qualquer coisa do tipo, até mesmo pra falar ao celular.
- Nada de “Alison” – disse acariciando-me.
Resolvi tomar um banho decente, lavar os cabelos, colocar uma roupa confortável, pois eu teria que limpar nossa nova casa hoje mesmo, e é claro, não pude deixar de cobrir bem os roxos com maquiagem.
Assim que Fernando estacionou o carro, pude sentir minha jugular pulsar mais forte. Desci do carro e toquei a campainha. Fernando mais apertava minha mão do que segurava.
- O que você está fazendo aqui? – a pessoa que eu mais odiava perguntou-me com uma expressão soberba ao abrir o portão.
- Vim pegar minhas coisas – disse entrando sem ao menos encará-la.
- VOCÊ NÃO VAI MORAR COM ELE – gritou, mas eu nem dei importância, chegando rapidamente em meu quarto e enfiando minhas roupas e objetos pessoais de qualquer jeito em sacos de lixo – JÁ DISSE QUE VOCÊ NÃO VAI – puxou o saco de minha mão. Eu estava começando a perder a paciência.
- Solta – rosnei ao puxar o mesmo, entregando à Fernando que observava a cena. Continuei com o segundo (e último saco) – Vamos – disse caminhando junto de Fernando até a saída.
- EU TE PROIBO! VOCÊ NÃO VAI – gritou num tom asqueroso, puxando-me pelos cabelos. Ela foi longe demais. Soltei o saco plástico, e não pude mais controlar minha raiva.
- VOCÊ CALA A TUA BOCA! – gritei praticamente enfiando meu dedo indicador em seu rosto – EU JÁ TENHO O DIREITO SIM! EU SOU LEGALMENTE LIVRE PRA IR – nesse momento toda minha vida passou por meus olhos. Lembrei-me de como já fui humilhada por ela. Todas as surras não merecidas. E logo eu estava com os dedos em seus cabelos, puxando-os com toda minha força – MALDITAAAA!!! – gritei quando lágrimas malditas escorreram por minhas bochechas.
- PARE COM ISSO! – Fernando gritou, mas eu não me importei. Agora eu estava sobre seu corpo, arranhando-a e dando tapas ardidos em sua face. Ela tentava se proteger como podia. Eu me sentir cinco vezes mais forte que o normal – CHEGA! – gritou ao agarrar-me e erguer-me pela cintura. Eu me debatia em seus braços largos e fortes.
- ME SOLTA! – gritei ao tentar livrar-me de seus braços – É HOJE QUE EU MATO ESSA FILHA DA PUTA – ela se levantou do chão.
- VAMOS AGORA – Fernando gritou severamente. Eu cedi aos poucos, juntando do chão o saco e encarando-a. Era possível notar os vergões em seu rosto, e logo segui junto de Fernando. Assim que entrei no carro, soube que nunca mais precisaria voltar. Nunca.
- Ei... – disse ao abraçar-me sem soltar o volante – Vai ficar tudo bem... Você nunca mais vai precisar voltar pra lá – disse calmamente.
- Vai sim – respirei fundo e forcei um sorriso. Eu sabia que uma nova fase começaria na minha vida, mas por mais que não me importasse ou a amasse, era... Complicado.
- Ei... – disse num tom de voz animado. “Obrigada”, pensei assim que Fernando mudou de assunto – O pessoal vai colar lá – disse olhando-me com um sorriso estonteante – A Sara, a Letícia... – voltou sua atenção à pista.
- Vai ser bacana, então – disse sorrindo. Sentia falta de Letícia. Ela e eu estamos namorando firme, então não nos vemos a algumas semanas – Amor... – fiz uma cara estranha ao lembrar-me – Como que você levou todos os móveis pra lá se só decidiu mudar-se hoje? – Fernando me encarou com uma expressão de “Fazendo mágica, meu anjinho”.
- Eu tinha uma noção pra onde iriamos, então os rapazes me ajudaram com a mobília.
- E o Marcelo? – quando dei-me conta da besteira que fiz, já era tarde demais. Fernando endireitou-se no banco.
- Ele não pôde ir para o hospital... – claro, pois ele era um bandido – Mas nada que remédios e descanso não curem aquele filho da puta – sorriu.
Fernando agora dirigia rumo ao topo do moro. Eu conhecia bem esse morro, já tinha transado, fumado e dançado por várias noites nesse paraíso. Me pergunto como não conheci Fernando antes, pois sempre frequentávamos e tínhamos os mesmos amigos.
- Eu sei que é clichê, mas quero fazer isso – disse assim que estacionou o carro. Seus olhos brilhavam e pude matar a charada no mesmo momento. Fernando saiu do carro e abriu a porta pra mim, pegando-me no colo e adentrando a residência, que já estava aberta. Fernando não era do tipo romântico, e quando era, era um tanto brega. Ri de meus pensamentos, pois eu não me importava com esse tipo de cerimonia.
- Ah, que meloso! Pelo amor de Deus, Fernando, pare de boiolice! – disse Miguel, que carregava duas caixas.
- Deixe-me ser boiola e amar minha princesa – disse ao colocar-me no chão e apertar-me contra seu corpo, dando-me um selinho. Senti que corei no mesmo instante – Fala, amor! Diz pra eles como eu sou boiola na cama – Eu gargalhei – Na verdade eu sei que você está com ciúmes e quer que eu te carregue também – disse ao libertar-me e pegar algumas caixas, levando-as até a cozinha. Pude olhar melhor o local. Era simples e arrumado. Simples o suficiente para não chamar a atenção de policiais, e arrumado o suficiente pra nos dar conforto. Eu sabia que Fernando tinha bastante dinheiro, mas nunca me importei com isso. Ele também não era uma pessoa luxuosa, ele apenas gostava de motos e roupas de marca. Minha vida seria assim pra sempre. Era bom viver feliz fumando maconha e temendo as sirenes. Quando conheci Fernando, só me importava com o momento, mas isso ia mudando aos poucos a cada dia. Quando a gente começa a amar, a gente se preocupa e com isso apenas queremos o melhor pra quem amamos.

Eu já tinha jogado água no quarto e banheiro e ambos já estavam arrumados. Agora só faltava a cozinha e sala, mas isso eu faria amanhã.
- Amor, você tempera essa carne? – perguntou-me Fernando ao mostrar-me a sacola que ele havia trazido do mercado. Assenti enquanto ele pegava cerveja na geladeira.
- Pode deixar que eu tempero – disse Sara ao adentrar a cozinha e pegar a mesma – Vai aproveitar a noite  - disse piscando pra mim – Você e ele merecem isso.
- Não, Sara. Que isso... Está tudo bem...
- Vai... – interrompeu-me – Vai comer algo e dançar um pouco. Eu já bebi demais.
E assim seguiu-se a noite. Fernando e eu dançamos agarrados. Pude conversar por algumas horas com Letícia. Bebemos, fumamos e rimos até que ficou frio demais.
Assim que Fernando trancou a casa e deitou-se ao meu lado, pude ver seu semblante feliz na luz fraca.
- Vem cá... – disse puxando-me. Ele estava tão quente mesmo só de boxer. Apertei seu corpo, sentindo cada detalhe. Parecia que ele ficava mais forte a cada dia, e era de fato necessário, pois agora ele fazia mais assaltos e sequestros relâmpagos.
- Eu me sinto como uma garota virgem de 15 anos – disse num tom convincente. Fernando gargalhou.
- Por que isso? – encarou-me – Quer que eu tire sua cabaça, é novinha – sussurrou em meu ouvido, arrepiando-me – Me diz o que você está pensando...
- Eu não te conheço... – chacoalhei a cabeça em negação – Não é isso... É que ficar com você é imprevisível – disse jogando meus baços em seu pescoço e beijando-o. E em pouco tempo só era possível ouvir nossos gemidos.