[...] Fernando apertou-me contra seu corpo. Virei minha cabeça ao
máximo para beijá-lo. Suas mãos subiram por meu corpo. Uma delas estava entre
minha garganta e maxilar enquanto a outra estava em minha barriga. Minhas mãos
estavam entrelaçadas nas de Fernando. Nossos beijos foram intensos desde o
começo. Nossas línguas moviam-se com impaciência e sincronia. Seu perfume
deixava-me cada vez mais embriagada. Não seria possível viver sem Fernando ao
meu lado, sem suas mãos, sem seu hálito quente soprando em meu pescoço, sem
seus olhos, sem sua proteção, sem seus mistérios... Cada vez mais o fogo da
excitação expandia-se por meu corpo dificultando minha respiração. Meu corpo
vibrava ainda mais por agora tocar uma música com um instrumental extremamente
sexy, assim interrompendo nosso beijo, fazendo com que meu corpo encaixasse
perfeitamente no de Fernando, e ambos nos movimentávamos com tamanha
sensualidade durante a dança que parecia que a música nos seguia, e não o
contrário.
Fernando emaranhou
seus dedos em meus cabelos com um tanto de brutalidade. Ele distribuía beijos e
mordidas em meus ombros – talvez tenha sido por isso que ele escolheu um tomara
que caia – fazendo-me arrepiar. Eu era apenas dele e ele era meu. Nossos troncos
se separaram um pouco, mas nossos quadris continuaram grudados durante a dança.
Eu pude sentir seus olhos em meu corpo enquanto ele apertava meu quadril contra
o dele, assim fazendo com que eu me esfregasse ainda mais nele, fazendo-me
lembrar de seu sexo selvagem, profundo e gostoso.
Assim que Fernando libertou meu corpo, ergui minha cabeça e
pude ver Marcelo. Ele disse algo no ouvido de Fernando e o mesmo arregalou os
olhos. Sua expressão continha inúmeros sentimentos: susto, ansiedade, raiva...
Principalmente raiva. Suas sobrancelhas estavam unidas e seu maxilar contraído,
porém eu mesmo sabendo que a situação não era boa não pude deixar de admirar
sua beleza exorbitante.
- Fique aqui – rosnou pra mim sem ao menos encarar-me e
seguiu pra fora.
Eu até que pude esperar por alguns – longos 3 minutos – mas
o medo não deixava meu corpo, fazendo com que eu seguisse o mesmo caminho que
Fernando tinha feito com seus passos largos e pesados.
- VOCÊ TÁ PENSANDO QUE É QUEM, SEU RAMELÃO DO CARALHO –
Fernando gritava e gesticulava nervosamente com um rapaz magro um tanto mais
baixo que ele. Meu coração disparou quando o revólver cromado reluziu em sua
mão sob a luz fraca dos postes elétricos – VOLTA PRA SUA QUEBRADA E DIZ PRO SEU
PATRÃO ENFIAR ESSE CINCO MIL NO MEIO DORABO DELE! – ele metralhava as palavras
para o garoto que tentava se explicar quando Fernando parava pra tomar mais ar
– VOCÊ CALA A TUA BOCA, PIVETE! OU QUEM MORRE É VOCÊ! – disse ao chocar seu
peito contra o do rapaz que agora recuava.
- EPA! CALMA AÊ – interveio um segundo homem na briga com
uma voz ameaçadora, pondo-se entre Fernando e o garoto. Só agora dei-me conta
da quantidade de pessoas que estavam na rua. Havia umas 15 pessoas, entre elas
os que eu conhecia – VOCÊ NÃO PODE...
- CALMA AÊ A PUTA QUE TE PARIU, SEU ARROMBADO! EU TÔ NA
MINHA QUEBRADA E VOCÊ VEM TIRAR O MEU SOCEGO POR COBRANÇA ATRASADA E AINDA NÃO
PAGA TUDO?! – disse interrompendo-o. A voz de Fernando falhou no fim da frase
por não ter mais ar de tanto que gritava enfurecido – E AINDA POR CIMA TRÁZ
VÁRIOS ZÉ RUELAS PRA EU ME SENTIR INTIMIDADO? – cuspiu as palavras com uma cara
de nojo e insatisfação - ENTÃO MANDA UM RECADO PRO SEU CHEFE, LAZARENTO... –
apontou a arma para o primeiro garoto e atirou sem pena alguma, apenas piscando
os olhos com o barulho.
Durou apenas alguns milésimos – mas que pareciam minutos –
até que todos dessem conta do que havia acontecido, e então iniciou-se a
guerra.
Enquanto o sangue escorria pelo buraco da bala no meio da
testa do garoto, Fernando brigava com fúria e ódio. Nunca vi alguém brigar como
ele. Seus socos derrubaram o segundo homem em poucos segundos, fazendo-o socar
o próximo que cruzasse seu caminho. Enquanto Fernando surrava um homem que
estava quase desmaiando, um terceiro veio pelas suas costas e apontou uma
automática em sua cabeça. Ele teria matado Fernando, mas minha reação foi tão
rápida que quando dei-me conta já estava lutando contra ele, que era pelo menos
quatro vezes mais forte que eu, dando-me apenas a opção de descarregar o pente
mirando o nada. Assim que Fernando deu-se conta da situação, deu uma chave de
braço no homem que agora estava no chão e assim Fernando partiu pra próxima
briga. Ao olhar pra frente, vi Marcelo desmaiado enquanto um homem o segurava e
outro dava socos em seu estômago. Eu não pensei duas vezes ao mirar o revólver
que por milagre ainda tinha munição. Ao largar Marcelo, o homem que o segurava
me encarou com os olhos arregalados, mas era possível ver a fúria em sua
expressão. Ele veio até mim e deu-me uma bofetada tão forte que cai. Meu ouvido
fazia um barulho agudo e eu pude sentir a área ficar alta. Ele agora estava
sobre mim e suas mãos em meu pescoço. Minha língua pulou pra fora da minha
boca. Minha garganta doía tanto e pude sentir o sangue pulsar e parar em minha
cabeça. Eu lutava pra manter meus olhos abertos e sugar o mínimo de ar possível
até que os olhos furiosos do homem que me enforcava, ficassem sem brilho. A
bala que provavelmente tinha atingido sua nuca saiu por sua bochecha,
respingando sangue em meu rosto. Eu nem me importei quando seu peso atingiu meu
corpo, apenas jogando-o pra qualquer lado. Eu tossia tanto que tive vontade de
vomitar. Minha garganta queimava. Fernando me pegou no colo e então tive noção
de que a briga tinha acabado. O restante tinha fugido.
Fernando me levou pra casa de Rodrigo e assim que ele me
deitou num dos sofás, voltou pra rua. Eu ainda estava com uma dor insuportável
na garganta e minha cabeça latejavam. Fiquei deitada por alguns minutos,
esquecendo-me de meu corpo, até que levantei e sai da residência.
- A gente cuida desse aqui – disse Rodrigo enquanto
carregava um dos corpos com a ajuda de um amigo.
- Cadê o Fernando – perguntei à Alessandra que estava
chorando.
- Foi até o terreno dos fundos fazer uma fogueira pra queimá-los
– disse ao tomar fôlego. Meus olhos congelaram quando vi o homem que tinha
matado. Eu sempre fui briguenta. Já mandei várias garotas para o hospital, mas
nunca tinha matado alguém. Eu não sentia pena do homem que havia morrido... Ou
era um deles, ou um dos nossos. Porém é estranho, não dá pra descrever o que se
sente quando se mata pela primeira vez. Mas foi necessário. “Foi necessário”,
disse pra mim mesma, confortando-me.
A música ainda tocava. Por sorte, nós estávamos afastados da
cidade e apenas algumas pessoas perceberam a briga, porém todos que estavam no
local eram bandidos, então não haveria polícia. Alguns minutos se passaram até
que meu coração relaxou assim que vi a silhueta de Fernando – que saía do
terreno baldio até a rua mal iluminada – ficar cada vez mais nítida.
- Como você está? – perguntou suavemente tocando em meu
rosto, levantando-o de leve e olhando meu pescoço.
- Já vi e senti coisas piores – disse forçando um sorriso e
isso o fez semicerrar os olhos – Nós já podemos ir pra casa? – perguntei com um
tom de manha na voz.
- Claro – disse e respirou fundo.
Nós nos despedimos de todos e seguimos para nosso
apartamento. Fernando não fiz nenhuma graça com a moto dessa vez, apenas
pilotou o mais rápido possível, chegando em tempo recorde.
Quando chegamos, fui à cozinha e tomei analgésicos e
caminhei até o quarto e Fernando me seguiu. Ele tirou sua roupa e deitou apenas
de boxer, cobrindo-se por conta do frio.
- Ei, vem cá – disse dando tapinhas no colchão, indicando
pra que eu deitasse com ele e assim o fiz. Não me importei em tirar a roupa,
pois estava cansada demais – Não vai trocar de roupa? – perguntou ao abraçar-me
por trás, sussurrando em meu ouvido. Seu tom de voz era gentil, mas era
possível notar que ele se esforçava pra isso. Eu apenas balancei a cabeça em
negação, aconchegando-me em seu corpo. Nós ficamos alguns minutos em silêncio
até que ele voltou a dizer – Tire essa roupa. Não é bom dormir de jeans. Meu
nariz começou a pinicar e minha bochecha queimava.
- Por que você teve que atirar nele? – disse ao encará-lo –
Nada disso teria acontecido se você não tivesse atirado nele... Você poderia te
feito de outra maneira...
- Você sabe o que eu sou e o que eu faço – interrompeu-me
grosso e soltando-me – Não te devo explicações! – cuspiu as palavras em minha
cara, fazendo com que eu perdesse o rumo. Ouvir aquilo foi como levar uma
facada. Não pude evitar que duas lágrimas escorressem por meu rosto, mas logo o
medo e decepção foram tomados por raiva.
- VOCÊ CALA A SUA BOCA, SEU BABACA! – grite com ódio,
fazendo-o ficar surpreso com minha reação. Eu não queria gritar com ele, muito
menos brigar, mas foi necessário – EU SEI O QUE VOCÊ É E O QUE VOCÊ FAZ. EU
ESCOLHI TE AMAR MESMO ASSIM, SEU IDIOTA!, MAS EU NÃO TENHO NENHUM SANGUE FRIO
PRA NÃO ME IMPORTAR SE VOCÊ MORRESSE DIANTE DOS MEUS OLHOS – respirei fundo
tomando ar e concretizando meu conceito – AINDA MAIS SE MORRESSE POR ALGO QUE
PODERIA SER EVITADO – levantei-me da cama com fúria e caminhei até o banheiro,
deixando-o com uma expressão vazia. Talvez ele estivesse digerindo o que eu
disse.
Eu tirei minhas roupas com calma e cansaço e adentrei a área
do banho. Deixei que meu corpo relaxasse e com coragem fechei o registro depois
de alguns minutos.
Assim que abri a porta do banheiro, o ar gelado fez meu
corpo estremecer. Caminhei rapidamente até o guarda-roupa, pegando uma camiseta
velha qualquer e vestindo-a.
- Desculpe – a voz grossa e sincera de Fernando ecoou pelo
cômodo (o que parecia estranho, pois o mesmo não era tão grande e sua voz não
era tão alta, ou talvez sua voz tenha apenas ecoado em minha cabeça) eu
encarei-o – Você não tem culpa por pensar dessa maneira – continuou enquanto eu
caminhava até ele que estava agora sentado, coberto apenas até a cintura, seu
tórax exposto ao ar frio da madrugada fez com que eu pensasse em como ele não
sentia frio.
- “Você não tem culpa por pensar dessa maneira” – sorri ao
repetir docemente sua frase – Eu... – deitei-me ao seu lado e aninhei-me ao seu
corpo – Eu apenas te amo demais... Tive tanto medo em te perder quando vi
aquele sujeito apontando uma arma pra sua cabeça – Ele respirava pesado – Se eu
não estivesse lá, você poderia estar morto agora.
- Mas não estou – disse firme, porém calmo. Seu tom era de
proteção, ele estava tentando me acalmar.
- Eu te amo de qualquer maneira, meu amor – disse segurando
seu rosto – Eu amo suas qualidades e defeitos, te amo incondicionalmente e sei
que essa não é a ultima vez que algo assim possa acontecer, mas... – respirei
fundo – Eu nunca vou perder o medo de te perder – Fernando me olhou tristonho.
Seus olhos estavam num tom castanho claro, porém opacos.
- Me desculpe por brigar com você por isso – disse segurando
meu rosto – Eu não estou acostumado com isso... Que me amem ou que se importem
comigo – ele colocou suavemente uma mecha de cabelo meu atrás da orelha – Eu
vou tentar ser mais paciente, mesmo quando estiver nervoso.
- Eu não sou uma criança, Fernando – disse sorrindo em
deboche fazendo-o sorrir. Ele as vezes fazia com que eu me sentisse ser uma
pivete desmamada, mas seu sorriso deu lugar à sobrancelha franzida e maxilar
contraído quando suas mãos chegaram em meu pescoço.
- Me perdoe por ter deixado que aquele filho da puta
encostasse em você – disse entredentes. Era possível ver a sinceridade em seu
olhar – Ele mereceu ir para o inferno.
- Não precisamos mais falar sobre isso – disse gentilmente.
Eu estava começando a ficar com sono, mas Fernando me fez mudar de ideia quando
começou a distribuir beijos suaves em meu pescoço.
Geralmente, Fernando e eu fazíamos sexo sem pensar ou se
importar com o amanhã, mas dessa vez foi diferente. A forma com que ele me
apertava contra seu corpo, o jeito que seus dentes puxavam a pele de meus
ombros e colo, a lentidão de nossos gemidos abafados e contidos, os carinhos que
ele fazia em meu rosto enquanto estava sobre meu corpo, as inúmeras vezes em
que ele apoiou sua testa na minha e sussurrou que me amava enquanto me
penetrava profunda e lentamente... Lento. Era como se o mundo tivesse parado
para que nós nos amássemos, mas pela última vez. O fogo que nós geralmente
tínhamos tinha sido substituído por um sentimento gélido e excitante que eu não
conseguia descrever, porém este também era prazeroso, era especial. Pela
primeira vez nós nos importamos com o amanhã. Assim que Fernando me levou ao
paraíso e gozar, deitou ao meu lado. Um pouco menos dolorida – devido ao efeito
do analgésico – Fernando abraçou-me por trás e começou a cantar uma doce
cantiga de ninar ao pé do meu ouvido, deixando-me sonolenta até que cedi ao
pedido do meu corpo, fechando os olhos, sentindo minha consciência cada vez
mais longe de meu físico.
Assim que acordei, estiquei minhas mãos pela cama à procura
de Fernando, encontrando apenas lençóis e cobertores. Levantei-me e fiz minha
higiene. Resolvi não lavar o cabelo por conta do frio, pois ainda estava com
preguiça demais para secá-lo com a ajuda do secador.
Ao trocar-me e sair do cômodo, encontrei Fernando empilhando
algumas caixas perto da porta.
- Por que disso? – perguntei curiosa.
- Vamos nos mudar – disse ao lacrar outra com fita – A propósito,
bom dia – disse vindo até mim e dando-me um caloroso beijo. Suas mãos deslizaram
por meu corpo e entraram por de baixo de minha camisa, arrepiando minha pele de
forma gostosa ao sentir seu toque gélido.
- E pra onde nós vamos? – sorri, ansiosa com a ideia. Fernando
beijou-me lenta e profundamente, puxando meu lábio inferior no fim. Eu apalpei
seu corpo, notando melhor seus músculos. Nos últimos meses, Fernando tem trabalhado
seu físico. Aos meus olhos era impossível que ele ficasse ainda mais gostoso,
mas pelo jeito eu estava redondamente enganada.
- Ainda tenho que ver isso – ele apertou nossas pélvis uma
contra a outra – Vem... Fiz seu café.