quarta-feira, 17 de abril de 2013

(cap4)



[...] Fernando apertou-me contra seu corpo. Virei minha cabeça ao máximo para beijá-lo. Suas mãos subiram por meu corpo. Uma delas estava entre minha garganta e maxilar enquanto a outra estava em minha barriga. Minhas mãos estavam entrelaçadas nas de Fernando. Nossos beijos foram intensos desde o começo. Nossas línguas moviam-se com impaciência e sincronia. Seu perfume deixava-me cada vez mais embriagada. Não seria possível viver sem Fernando ao meu lado, sem suas mãos, sem seu hálito quente soprando em meu pescoço, sem seus olhos, sem sua proteção, sem seus mistérios... Cada vez mais o fogo da excitação expandia-se por meu corpo dificultando minha respiração. Meu corpo vibrava ainda mais por agora tocar uma música com um instrumental extremamente sexy, assim interrompendo nosso beijo, fazendo com que meu corpo encaixasse perfeitamente no de Fernando, e ambos nos movimentávamos com tamanha sensualidade durante a dança que parecia que a música nos seguia, e não o contrário.
 Fernando emaranhou seus dedos em meus cabelos com um tanto de brutalidade. Ele distribuía beijos e mordidas em meus ombros – talvez tenha sido por isso que ele escolheu um tomara que caia – fazendo-me arrepiar. Eu era apenas dele e ele era meu. Nossos troncos se separaram um pouco, mas nossos quadris continuaram grudados durante a dança. Eu pude sentir seus olhos em meu corpo enquanto ele apertava meu quadril contra o dele, assim fazendo com que eu me esfregasse ainda mais nele, fazendo-me lembrar de seu sexo selvagem, profundo e gostoso.
Assim que Fernando libertou meu corpo, ergui minha cabeça e pude ver Marcelo. Ele disse algo no ouvido de Fernando e o mesmo arregalou os olhos. Sua expressão continha inúmeros sentimentos: susto, ansiedade, raiva... Principalmente raiva. Suas sobrancelhas estavam unidas e seu maxilar contraído, porém eu mesmo sabendo que a situação não era boa não pude deixar de admirar sua beleza exorbitante.
- Fique aqui – rosnou pra mim sem ao menos encarar-me e seguiu pra fora.
Eu até que pude esperar por alguns – longos 3 minutos – mas o medo não deixava meu corpo, fazendo com que eu seguisse o mesmo caminho que Fernando tinha feito com seus passos largos e pesados.
- VOCÊ TÁ PENSANDO QUE É QUEM, SEU RAMELÃO DO CARALHO – Fernando gritava e gesticulava nervosamente com um rapaz magro um tanto mais baixo que ele. Meu coração disparou quando o revólver cromado reluziu em sua mão sob a luz fraca dos postes elétricos – VOLTA PRA SUA QUEBRADA E DIZ PRO SEU PATRÃO ENFIAR ESSE CINCO MIL NO MEIO DORABO DELE! – ele metralhava as palavras para o garoto que tentava se explicar quando Fernando parava pra tomar mais ar – VOCÊ CALA A TUA BOCA, PIVETE! OU QUEM MORRE É VOCÊ! – disse ao chocar seu peito contra o do rapaz que agora recuava.
- EPA! CALMA AÊ – interveio um segundo homem na briga com uma voz ameaçadora, pondo-se entre Fernando e o garoto. Só agora dei-me conta da quantidade de pessoas que estavam na rua. Havia umas 15 pessoas, entre elas os que eu conhecia – VOCÊ NÃO PODE...
- CALMA AÊ A PUTA QUE TE PARIU, SEU ARROMBADO! EU TÔ NA MINHA QUEBRADA E VOCÊ VEM TIRAR O MEU SOCEGO POR COBRANÇA ATRASADA E AINDA NÃO PAGA TUDO?! – disse interrompendo-o. A voz de Fernando falhou no fim da frase por não ter mais ar de tanto que gritava enfurecido – E AINDA POR CIMA TRÁZ VÁRIOS ZÉ RUELAS PRA EU ME SENTIR INTIMIDADO? – cuspiu as palavras com uma cara de nojo e insatisfação - ENTÃO MANDA UM RECADO PRO SEU CHEFE, LAZARENTO... – apontou a arma para o primeiro garoto e atirou sem pena alguma, apenas piscando os olhos com o barulho.
Durou apenas alguns milésimos – mas que pareciam minutos – até que todos dessem conta do que havia acontecido, e então iniciou-se a guerra.
Enquanto o sangue escorria pelo buraco da bala no meio da testa do garoto, Fernando brigava com fúria e ódio. Nunca vi alguém brigar como ele. Seus socos derrubaram o segundo homem em poucos segundos, fazendo-o socar o próximo que cruzasse seu caminho. Enquanto Fernando surrava um homem que estava quase desmaiando, um terceiro veio pelas suas costas e apontou uma automática em sua cabeça. Ele teria matado Fernando, mas minha reação foi tão rápida que quando dei-me conta já estava lutando contra ele, que era pelo menos quatro vezes mais forte que eu, dando-me apenas a opção de descarregar o pente mirando o nada. Assim que Fernando deu-se conta da situação, deu uma chave de braço no homem que agora estava no chão e assim Fernando partiu pra próxima briga. Ao olhar pra frente, vi Marcelo desmaiado enquanto um homem o segurava e outro dava socos em seu estômago. Eu não pensei duas vezes ao mirar o revólver que por milagre ainda tinha munição. Ao largar Marcelo, o homem que o segurava me encarou com os olhos arregalados, mas era possível ver a fúria em sua expressão. Ele veio até mim e deu-me uma bofetada tão forte que cai. Meu ouvido fazia um barulho agudo e eu pude sentir a área ficar alta. Ele agora estava sobre mim e suas mãos em meu pescoço. Minha língua pulou pra fora da minha boca. Minha garganta doía tanto e pude sentir o sangue pulsar e parar em minha cabeça. Eu lutava pra manter meus olhos abertos e sugar o mínimo de ar possível até que os olhos furiosos do homem que me enforcava, ficassem sem brilho. A bala que provavelmente tinha atingido sua nuca saiu por sua bochecha, respingando sangue em meu rosto. Eu nem me importei quando seu peso atingiu meu corpo, apenas jogando-o pra qualquer lado. Eu tossia tanto que tive vontade de vomitar. Minha garganta queimava. Fernando me pegou no colo e então tive noção de que a briga tinha acabado. O restante tinha fugido.
Fernando me levou pra casa de Rodrigo e assim que ele me deitou num dos sofás, voltou pra rua. Eu ainda estava com uma dor insuportável na garganta e minha cabeça latejavam. Fiquei deitada por alguns minutos, esquecendo-me de meu corpo, até que levantei e sai da residência.
- A gente cuida desse aqui – disse Rodrigo enquanto carregava um dos corpos com a ajuda de um amigo.
- Cadê o Fernando – perguntei à Alessandra que estava chorando.
- Foi até o terreno dos fundos fazer uma fogueira pra queimá-los – disse ao tomar fôlego. Meus olhos congelaram quando vi o homem que tinha matado. Eu sempre fui briguenta. Já mandei várias garotas para o hospital, mas nunca tinha matado alguém. Eu não sentia pena do homem que havia morrido... Ou era um deles, ou um dos nossos. Porém é estranho, não dá pra descrever o que se sente quando se mata pela primeira vez. Mas foi necessário. “Foi necessário”, disse pra mim mesma, confortando-me.
A música ainda tocava. Por sorte, nós estávamos afastados da cidade e apenas algumas pessoas perceberam a briga, porém todos que estavam no local eram bandidos, então não haveria polícia. Alguns minutos se passaram até que meu coração relaxou assim que vi a silhueta de Fernando – que saía do terreno baldio até a rua mal iluminada – ficar cada vez mais nítida.
- Como você está? – perguntou suavemente tocando em meu rosto, levantando-o de leve e olhando meu pescoço.
- Já vi e senti coisas piores – disse forçando um sorriso e isso o fez semicerrar os olhos – Nós já podemos ir pra casa? – perguntei com um tom de manha na voz.
- Claro – disse e respirou fundo.
Nós nos despedimos de todos e seguimos para nosso apartamento. Fernando não fiz nenhuma graça com a moto dessa vez, apenas pilotou o mais rápido possível, chegando em tempo recorde.
Quando chegamos, fui à cozinha e tomei analgésicos e caminhei até o quarto e Fernando me seguiu. Ele tirou sua roupa e deitou apenas de boxer, cobrindo-se por conta do frio.
- Ei, vem cá – disse dando tapinhas no colchão, indicando pra que eu deitasse com ele e assim o fiz. Não me importei em tirar a roupa, pois estava cansada demais – Não vai trocar de roupa? – perguntou ao abraçar-me por trás, sussurrando em meu ouvido. Seu tom de voz era gentil, mas era possível notar que ele se esforçava pra isso. Eu apenas balancei a cabeça em negação, aconchegando-me em seu corpo. Nós ficamos alguns minutos em silêncio até que ele voltou a dizer – Tire essa roupa. Não é bom dormir de jeans. Meu nariz começou a pinicar e minha bochecha queimava.
- Por que você teve que atirar nele? – disse ao encará-lo – Nada disso teria acontecido se você não tivesse atirado nele... Você poderia te feito de outra maneira...
- Você sabe o que eu sou e o que eu faço – interrompeu-me grosso e soltando-me – Não te devo explicações! – cuspiu as palavras em minha cara, fazendo com que eu perdesse o rumo. Ouvir aquilo foi como levar uma facada. Não pude evitar que duas lágrimas escorressem por meu rosto, mas logo o medo e decepção foram tomados por raiva.
- VOCÊ CALA A SUA BOCA, SEU BABACA! – grite com ódio, fazendo-o ficar surpreso com minha reação. Eu não queria gritar com ele, muito menos brigar, mas foi necessário – EU SEI O QUE VOCÊ É E O QUE VOCÊ FAZ. EU ESCOLHI TE AMAR MESMO ASSIM, SEU IDIOTA!, MAS EU NÃO TENHO NENHUM SANGUE FRIO PRA NÃO ME IMPORTAR SE VOCÊ MORRESSE DIANTE DOS MEUS OLHOS – respirei fundo tomando ar e concretizando meu conceito – AINDA MAIS SE MORRESSE POR ALGO QUE PODERIA SER EVITADO – levantei-me da cama com fúria e caminhei até o banheiro, deixando-o com uma expressão vazia. Talvez ele estivesse digerindo o que eu disse.
Eu tirei minhas roupas com calma e cansaço e adentrei a área do banho. Deixei que meu corpo relaxasse e com coragem fechei o registro depois de alguns minutos.
Assim que abri a porta do banheiro, o ar gelado fez meu corpo estremecer. Caminhei rapidamente até o guarda-roupa, pegando uma camiseta velha qualquer e vestindo-a.
- Desculpe – a voz grossa e sincera de Fernando ecoou pelo cômodo (o que parecia estranho, pois o mesmo não era tão grande e sua voz não era tão alta, ou talvez sua voz tenha apenas ecoado em minha cabeça) eu encarei-o – Você não tem culpa por pensar dessa maneira – continuou enquanto eu caminhava até ele que estava agora sentado, coberto apenas até a cintura, seu tórax exposto ao ar frio da madrugada fez com que eu pensasse em como ele não sentia frio.
- “Você não tem culpa por pensar dessa maneira” – sorri ao repetir docemente sua frase – Eu... – deitei-me ao seu lado e aninhei-me ao seu corpo – Eu apenas te amo demais... Tive tanto medo em te perder quando vi aquele sujeito apontando uma arma pra sua cabeça – Ele respirava pesado – Se eu não estivesse lá, você poderia estar morto agora.
- Mas não estou – disse firme, porém calmo. Seu tom era de proteção, ele estava tentando me acalmar.
- Eu te amo de qualquer maneira, meu amor – disse segurando seu rosto – Eu amo suas qualidades e defeitos, te amo incondicionalmente e sei que essa não é a ultima vez que algo assim possa acontecer, mas... – respirei fundo – Eu nunca vou perder o medo de te perder – Fernando me olhou tristonho. Seus olhos estavam num tom castanho claro, porém opacos.
- Me desculpe por brigar com você por isso – disse segurando meu rosto – Eu não estou acostumado com isso... Que me amem ou que se importem comigo – ele colocou suavemente uma mecha de cabelo meu atrás da orelha – Eu vou tentar ser mais paciente, mesmo quando estiver nervoso.
- Eu não sou uma criança, Fernando – disse sorrindo em deboche fazendo-o sorrir. Ele as vezes fazia com que eu me sentisse ser uma pivete desmamada, mas seu sorriso deu lugar à sobrancelha franzida e maxilar contraído quando suas mãos chegaram em meu pescoço.
- Me perdoe por ter deixado que aquele filho da puta encostasse em você – disse entredentes. Era possível ver a sinceridade em seu olhar – Ele mereceu ir para o inferno.
- Não precisamos mais falar sobre isso – disse gentilmente. Eu estava começando a ficar com sono, mas Fernando me fez mudar de ideia quando começou a distribuir beijos suaves em meu pescoço.
Geralmente, Fernando e eu fazíamos sexo sem pensar ou se importar com o amanhã, mas dessa vez foi diferente. A forma com que ele me apertava contra seu corpo, o jeito que seus dentes puxavam a pele de meus ombros e colo, a lentidão de nossos gemidos abafados e contidos, os carinhos que ele fazia em meu rosto enquanto estava sobre meu corpo, as inúmeras vezes em que ele apoiou sua testa na minha e sussurrou que me amava enquanto me penetrava profunda e lentamente... Lento. Era como se o mundo tivesse parado para que nós nos amássemos, mas pela última vez. O fogo que nós geralmente tínhamos tinha sido substituído por um sentimento gélido e excitante que eu não conseguia descrever, porém este também era prazeroso, era especial. Pela primeira vez nós nos importamos com o amanhã. Assim que Fernando me levou ao paraíso e gozar, deitou ao meu lado. Um pouco menos dolorida – devido ao efeito do analgésico – Fernando abraçou-me por trás e começou a cantar uma doce cantiga de ninar ao pé do meu ouvido, deixando-me sonolenta até que cedi ao pedido do meu corpo, fechando os olhos, sentindo minha consciência cada vez mais longe de meu físico. 
Assim que acordei, estiquei minhas mãos pela cama à procura de Fernando, encontrando apenas lençóis e cobertores. Levantei-me e fiz minha higiene. Resolvi não lavar o cabelo por conta do frio, pois ainda estava com preguiça demais para secá-lo com a ajuda do secador.
Ao trocar-me e sair do cômodo, encontrei Fernando empilhando algumas caixas perto da porta.
- Por que disso? – perguntei curiosa.
- Vamos nos mudar – disse ao lacrar outra com fita – A propósito, bom dia – disse vindo até mim e dando-me um caloroso beijo. Suas mãos deslizaram por meu corpo e entraram por de baixo de minha camisa, arrepiando minha pele de forma gostosa ao sentir seu toque gélido.
- E pra onde nós vamos? – sorri, ansiosa com a ideia. Fernando beijou-me lenta e profundamente, puxando meu lábio inferior no fim. Eu apalpei seu corpo, notando melhor seus músculos. Nos últimos meses, Fernando tem trabalhado seu físico. Aos meus olhos era impossível que ele ficasse ainda mais gostoso, mas pelo jeito eu estava redondamente enganada.
- Ainda tenho que ver isso – ele apertou nossas pélvis uma contra a outra – Vem... Fiz seu café.


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