quarta-feira, 24 de abril de 2013

(cap5)



[...]– disse levando-me à cozinha, sentando-me numa das cadeiras e servindo-me uma tigela com frutas. Arregalei meus olhos. Minha garganta doía tanto ao engolir saliva que seria como engolir pedregulhos ao engolir qualquer tipo de comida.
- Não quero – disse indiferente empurrando a tigela. Meu corpo ainda estava sobre efeito do analgésico, pois não tem nem 6 horas que eu os tomei. Não me olhei no espelho essa manhã, mas sei que estou roxa, pois posso sentir que a região perto do meu olho está um tanto inchada. Fernando não tinha comentado nada sobre isso, pois sei que estava tentando evitar discussões, pois seus olhos tremeram quando me viu essa manhã.
- Hmmm – disse semicerrando os olhos e fazendo uma expressão que eu não pude entender. Ele tinha matado a charada – Deixe-me ver isto – disse sério ao aproximar-se e afastar meus cabelos que estavam soltos. Seus olhos se arregalaram. Por que ele teve que fazer isso? Fingir que nada aconteceu era melhor – Meu Deus... Isso está horrível!... Está cinco vezes pior que seu rosto! – seu olhar preocupado transformou-se em raiva – EU IRIA ATÉ O INFERNO SÓ PRA MATAR AQUELE FILHO DA PUTA UMA SEGUNDA VEZ – gritou ao atirar a tigela com frutas (agora espatifada) na parede. O susto foi tão grande que quase senti medo. Fernando foi até uma das caixas e pegou uma garrafa de uísque, encheu pelo menos duas doses num copo e tomou tudo em poucas goladas. Notei que seus olhos lacrimejaram – Eu vou te dar maconha para que você relaxe um pouco – disse e fez sinal para que eu o seguisse. “Não sou apenas eu quem precisa relaxar”, pensei, mas resolvi ficar quieta, pois não queria irritá-lo ainda mais. Fernando tirou um saquinho que continha maconha de uma das caixas, deitou-se na chaise e puxou-me pra si, aninhando nossos corpos e logo jogou um cobertor sobre nós que sempre ficava no encosto do sofá.
- Pega, amor – disse entregando-me a droga já enrolada no papel e junto um isqueiro. Depois que fumei algumas vezes, pude sentir meu corpo relaxar profundamente e assim entreguei o mesmo para Fernando que também fumou. Ele ergueu meu rosto para que eu o olhasse – Eu te amo demais – disse e logo em seguida beijou-me lenta e profundamente. Enquanto nossas línguas moviam-se em sincronia, uma de suas mãos segurava a maconha, a outra acariciava meu rosto, onde eu tinha levado a bofetada. Nós nem prestávamos atenção na tv. Eu envolvi meus braços em seu pescoço – Espere – disse durante nosso beijo e rompendo o mesmo. Ele acendeu mais uma vez a droga, fumando-a e assim segurando meu rosto de forma que eu sugasse a fumaça que saía de sua boca. Eu adorava quando ele fazia isso. Fernando agora estava com suas mãos livres, podendo apertar-me contra seu corpo. Seus apertos eram tão fogosos que me enlouqueciam rapidamente. Fernando ergueu impaciente minha camiseta até o limite, mas não quis tirá-la por conta do frio. Dando-se por vencido, apenas contentou-se em apalpar um de meus seios enquanto chupava e mordiscava o outro. Ele esgarçava o tecido, puxando a gola para que pudesse beijar e morder a pele de meu colo deixando-me nervosa, fazendo com que eu cedesse e tirasse a mesma. “Esse filho da mãe me paga”, pensei ao tirar sua camisa. Em troca, Fernando apenas me encarou com seus olhos cor de fogo e era possível notar que o fogo não estava apenas em seus olhos, pois assim que desci minhas mãos, pude sentir sua ereção, fazendo com que meus pelos se eriçassem. Em pouco tempo fiquei completamente excitada por seus toques e logo minha calça e calcinha estavam jogados nos pés do sofá. Desci minhas mãos impacientes pelos ombros e braços de Fernando, sentindo sua pele macia queimar sob meus dedos. Meus beijos percorreram várias vezes o caminho da boca para o maxilar de Fernando e logo mordi a ponta de sua orelha.
-Me come logo... – arfei.
Por estarmos de lado, nossos movimentos eram um tanto limitados. Assim que Fernando ficou nu, joguei uma de minhas pernas sobre seu quadril, dando espaço suficiente pra que Fernando me penetrasse e quando assim o fez, minha intimidade ardeu deliciosamente. Essa posição dependia mais de meu esforço do que de Fernando e assim afastei meu tronco e enquanto envergava minhas costas e comandava os movimentos de vai e vem, ele apertava fortemente minha cintura enquanto mordia o lábio inferior e encarava nossa intimidade. Pude notar que não estávamos mais cobertos, mas o frio não me afetava, pois as gotículas de suor já estavam sobre nossos corpos. Eu estava quase tento um orgasmo, pois os pelos da minha coxa se arrepiaram. O prazer que Fernando me dava inundava-me de forma tão profunda e perturbadora que era quase insuportável. Enfiei minha cabeça entre o sofá e o ombro de Fernando, assim abafando meus gemidos que estavam um tanto mais altos que o normal. Ele puxou-me pelos cabelos e encarou minha face de prazer com uma feição um tanto brava, pois suas sobrancelhas estavam franzidas e seu maxilar contraído. Seus olhos vislumbravam-me a ponto de me deixar constrangida. Eu sabia que ele gostava de me ver gemer pra ele, por ele. Assim que gozei, meu quadril começou a tremer levemente, pois Fernando ainda estava dentro de mim e por sua expressão, estava longe de acabar.
- Vamos trocar? – perguntei com a voz falha. Fernando emaranhou seus dedos em meus cabelos, enfiando minha cabeça entre seu ombro e o sofá, da mesma forma que eu tinha feito antes para que agora colocasse os lábios em meu ouvido.
- Cavalga no meu pau, amor – disse num tom baixo de ordem. Ele provavelmente queria me matar. Fernando puxou-me com tanta pratica que agora eu já estava sobre seu corpo, ajeitando-me e enfim quicando. Apoiei minhas mãos sobre seu tórax e em certos momentos, inclinava-me e beijava-o. Suas mãos estavam sobre minhas coxas, apertando-as. Certas vezes, Fernando dava-me tapas ardidos enquanto fechava os olhos. Quando encarei nossos corpos, notei que fagulhas formavam-se aos nossos toques. Eu deveria estar muito louca, pois era como o início de um fogo. Por curiosidade, inclinei-me novamente e acariciei o rosto de Fernando em meio os movimentos do meu quadril. Sim, nossos toques continham fagulhas. Sorri ao ver essa imagem curiosa e como se fosse combinado, Fernando abriu os olhos e sorriu. Beijei-o com tanta voracidade que fiquei sem fôlego. Eu já não podia sentir meu corpo, pois provavelmente tinha gozado umas três vezes. Meus gemidos agora mais pareciam calafrios. Meu corpo todo tremia sobre o de Fernando. Assim que ele percebeu isso, mudou nossa posição de forma rápida, ficando sobre mim. Fernando envolveu-me com seus braços longos, para que pudesse penetrar-me mais a fundo e com mais rapidez. Ele urrava aos meus ouvidos, enquanto meus gemidos mais pareciam gritos, secando minha boca por completo. Eu não sabia o que fazer, apenas mordia a pele de seu ombro em quando recuperava meu fôlego. Não conseguia controlar meu corpo, que retorcia sob o de Fernando. Ele desceu suas mãos pela lateral de meu corpo enquanto diminuía gradativamente a velocidade. Assim que Fernando gozou, pude sentir meu corpo amolecer. Ele beijou-me lenta e docemente até que decidiu libertar-me e encarar-me com seus olhos castanhos, agora no tom habitual.
- Você não aguenta nada – disse num tom brincalhão, fazendo-me rir. Eu não tinha energia nem ao menos pra fazê-lo direito.
- Ou é você quem tem demais – conclui. Peguei minhas roupas e vesti, enquanto Fernando fazia o mesmo. Eu não queria nem ao menos tomar banho, minha única vontade era de dormir – Eu estou dizendo... Um dia você me mata – disse ao aninhar meu corpo ao de Fernando e em troca ganhei uma risada calorosa, como um dia de verão. Fernando nos cobriu. Sua mão impaciente ergueu minha camisa até os meus seios, e seus dedos gelados começaram a percorrer minhas costelas, fazendo desenhos abstratos. A respiração de Fernando e a programação da tv foi ficando cada vez mais baixa, até que adormeci.

- Só faltam essas agora – a voz de Fernando ficava cada vez mais alta até que acordei por completo – Vou chamá-la. Leve minha moto que eu preciso do seu carro, pois ela vai pegar coisas na casa da mãe dela.
- Onde estão as chaves? – perguntou Rogério – Ok, até mais – e a porta foi fechada.
- Dormi demais? – perguntei num tom mole, esfregando os olhos.
- Umas 6 horas, mas você precisava descansar... – disse ao sentar-se – Suas roupas já estão no carro, agora você precisa pegar suas coisas na casa da sua mãe... – disse delicado, acariciando meu rosto.
- Você ainda não me disse pra onde nós vamos – disse num tom infantil.
- Nós vamos morar morro – disse sorrindo. Pra um bandido, a favela é o lugar mais seguro.
- Então, nada de “Alison”?!... – perguntei sorrindo. “Alison” era o nome falso de Fernando. Ele usava esses documentos quando precisava alugar casas, ou qualquer coisa do tipo, até mesmo pra falar ao celular.
- Nada de “Alison” – disse acariciando-me.
Resolvi tomar um banho decente, lavar os cabelos, colocar uma roupa confortável, pois eu teria que limpar nossa nova casa hoje mesmo, e é claro, não pude deixar de cobrir bem os roxos com maquiagem.
Assim que Fernando estacionou o carro, pude sentir minha jugular pulsar mais forte. Desci do carro e toquei a campainha. Fernando mais apertava minha mão do que segurava.
- O que você está fazendo aqui? – a pessoa que eu mais odiava perguntou-me com uma expressão soberba ao abrir o portão.
- Vim pegar minhas coisas – disse entrando sem ao menos encará-la.
- VOCÊ NÃO VAI MORAR COM ELE – gritou, mas eu nem dei importância, chegando rapidamente em meu quarto e enfiando minhas roupas e objetos pessoais de qualquer jeito em sacos de lixo – JÁ DISSE QUE VOCÊ NÃO VAI – puxou o saco de minha mão. Eu estava começando a perder a paciência.
- Solta – rosnei ao puxar o mesmo, entregando à Fernando que observava a cena. Continuei com o segundo (e último saco) – Vamos – disse caminhando junto de Fernando até a saída.
- EU TE PROIBO! VOCÊ NÃO VAI – gritou num tom asqueroso, puxando-me pelos cabelos. Ela foi longe demais. Soltei o saco plástico, e não pude mais controlar minha raiva.
- VOCÊ CALA A TUA BOCA! – gritei praticamente enfiando meu dedo indicador em seu rosto – EU JÁ TENHO O DIREITO SIM! EU SOU LEGALMENTE LIVRE PRA IR – nesse momento toda minha vida passou por meus olhos. Lembrei-me de como já fui humilhada por ela. Todas as surras não merecidas. E logo eu estava com os dedos em seus cabelos, puxando-os com toda minha força – MALDITAAAA!!! – gritei quando lágrimas malditas escorreram por minhas bochechas.
- PARE COM ISSO! – Fernando gritou, mas eu não me importei. Agora eu estava sobre seu corpo, arranhando-a e dando tapas ardidos em sua face. Ela tentava se proteger como podia. Eu me sentir cinco vezes mais forte que o normal – CHEGA! – gritou ao agarrar-me e erguer-me pela cintura. Eu me debatia em seus braços largos e fortes.
- ME SOLTA! – gritei ao tentar livrar-me de seus braços – É HOJE QUE EU MATO ESSA FILHA DA PUTA – ela se levantou do chão.
- VAMOS AGORA – Fernando gritou severamente. Eu cedi aos poucos, juntando do chão o saco e encarando-a. Era possível notar os vergões em seu rosto, e logo segui junto de Fernando. Assim que entrei no carro, soube que nunca mais precisaria voltar. Nunca.
- Ei... – disse ao abraçar-me sem soltar o volante – Vai ficar tudo bem... Você nunca mais vai precisar voltar pra lá – disse calmamente.
- Vai sim – respirei fundo e forcei um sorriso. Eu sabia que uma nova fase começaria na minha vida, mas por mais que não me importasse ou a amasse, era... Complicado.
- Ei... – disse num tom de voz animado. “Obrigada”, pensei assim que Fernando mudou de assunto – O pessoal vai colar lá – disse olhando-me com um sorriso estonteante – A Sara, a Letícia... – voltou sua atenção à pista.
- Vai ser bacana, então – disse sorrindo. Sentia falta de Letícia. Ela e eu estamos namorando firme, então não nos vemos a algumas semanas – Amor... – fiz uma cara estranha ao lembrar-me – Como que você levou todos os móveis pra lá se só decidiu mudar-se hoje? – Fernando me encarou com uma expressão de “Fazendo mágica, meu anjinho”.
- Eu tinha uma noção pra onde iriamos, então os rapazes me ajudaram com a mobília.
- E o Marcelo? – quando dei-me conta da besteira que fiz, já era tarde demais. Fernando endireitou-se no banco.
- Ele não pôde ir para o hospital... – claro, pois ele era um bandido – Mas nada que remédios e descanso não curem aquele filho da puta – sorriu.
Fernando agora dirigia rumo ao topo do moro. Eu conhecia bem esse morro, já tinha transado, fumado e dançado por várias noites nesse paraíso. Me pergunto como não conheci Fernando antes, pois sempre frequentávamos e tínhamos os mesmos amigos.
- Eu sei que é clichê, mas quero fazer isso – disse assim que estacionou o carro. Seus olhos brilhavam e pude matar a charada no mesmo momento. Fernando saiu do carro e abriu a porta pra mim, pegando-me no colo e adentrando a residência, que já estava aberta. Fernando não era do tipo romântico, e quando era, era um tanto brega. Ri de meus pensamentos, pois eu não me importava com esse tipo de cerimonia.
- Ah, que meloso! Pelo amor de Deus, Fernando, pare de boiolice! – disse Miguel, que carregava duas caixas.
- Deixe-me ser boiola e amar minha princesa – disse ao colocar-me no chão e apertar-me contra seu corpo, dando-me um selinho. Senti que corei no mesmo instante – Fala, amor! Diz pra eles como eu sou boiola na cama – Eu gargalhei – Na verdade eu sei que você está com ciúmes e quer que eu te carregue também – disse ao libertar-me e pegar algumas caixas, levando-as até a cozinha. Pude olhar melhor o local. Era simples e arrumado. Simples o suficiente para não chamar a atenção de policiais, e arrumado o suficiente pra nos dar conforto. Eu sabia que Fernando tinha bastante dinheiro, mas nunca me importei com isso. Ele também não era uma pessoa luxuosa, ele apenas gostava de motos e roupas de marca. Minha vida seria assim pra sempre. Era bom viver feliz fumando maconha e temendo as sirenes. Quando conheci Fernando, só me importava com o momento, mas isso ia mudando aos poucos a cada dia. Quando a gente começa a amar, a gente se preocupa e com isso apenas queremos o melhor pra quem amamos.

Eu já tinha jogado água no quarto e banheiro e ambos já estavam arrumados. Agora só faltava a cozinha e sala, mas isso eu faria amanhã.
- Amor, você tempera essa carne? – perguntou-me Fernando ao mostrar-me a sacola que ele havia trazido do mercado. Assenti enquanto ele pegava cerveja na geladeira.
- Pode deixar que eu tempero – disse Sara ao adentrar a cozinha e pegar a mesma – Vai aproveitar a noite  - disse piscando pra mim – Você e ele merecem isso.
- Não, Sara. Que isso... Está tudo bem...
- Vai... – interrompeu-me – Vai comer algo e dançar um pouco. Eu já bebi demais.
E assim seguiu-se a noite. Fernando e eu dançamos agarrados. Pude conversar por algumas horas com Letícia. Bebemos, fumamos e rimos até que ficou frio demais.
Assim que Fernando trancou a casa e deitou-se ao meu lado, pude ver seu semblante feliz na luz fraca.
- Vem cá... – disse puxando-me. Ele estava tão quente mesmo só de boxer. Apertei seu corpo, sentindo cada detalhe. Parecia que ele ficava mais forte a cada dia, e era de fato necessário, pois agora ele fazia mais assaltos e sequestros relâmpagos.
- Eu me sinto como uma garota virgem de 15 anos – disse num tom convincente. Fernando gargalhou.
- Por que isso? – encarou-me – Quer que eu tire sua cabaça, é novinha – sussurrou em meu ouvido, arrepiando-me – Me diz o que você está pensando...
- Eu não te conheço... – chacoalhei a cabeça em negação – Não é isso... É que ficar com você é imprevisível – disse jogando meus baços em seu pescoço e beijando-o. E em pouco tempo só era possível ouvir nossos gemidos.