Ao acordar,
esfreguei meus olhos e senti o rímel se esfarelar sob meus dedos.
Automaticamente, lembrei-me da noite passada. Minha boca pediu por água mais do
que nunca. Minha cabeça latejava e queimava ao mesmo tempo. O garoto que dormia
ao meu lado – talvez Gabriel ou Guilerme – carregava um semblante preocupado.
Ele deveria estar tão exausto como eu. Levantei-me e procurei por minhas roupas
com a máxima cautela possível, pois não queria a cerimônia de despedida depois
do sexo. Ao sair do motel abri minha carteira e vi que apenas tinha R$10,00.
Desgostosa, caminhei bufando até o ponto de ônibus, pois seria caríssimo pagar
um taxi até minha casa, que fica do outro lado da cidade.
Ao chegar em casa,
minha mãe fez a usual e calorosa recepção:
- VOCÊ QUASE ME
MATOU! POR ONDE VOCÊ ESTEVE? EU ESTOU CANSADA DISSO! NÃO AGUENTO
MAIS!…
Eu revirei os olhos
enquanto mordia um pedaço enorme do pão. Seu teatro era ridículo!
- Estou aqui agora…
– respondi de forma neutra, interrompendo-a – Sem drama, tudo bem mamãe? –
ironizei a ultima palavra enquanto subia pro meu quarto.
Depois de tomar um
banho demorado e quente, dois analgésicos, 3 horas de sono e uma tarde de
filmes, meu celular brilha e na tela aparece “Letícia”:
- AMIGA – grita
animada, e eu sorrio. Letícia sempre me ajudou quando precisei. Realmente era
minha amiga pra todas as horas – Se arruma! Hoje vai rolar um churras M-U-I-T-O
foda na casa da Jaque! Vai ser um fervo! O Rafa também vai– nós duas
rimos de forma infantil.
- Ok! Dá um toque e
eu desço no portão.
- Tá, minha flor!
Beijinhos! – e desligamos
- Tudo bem… – disse
pra mim mesma – Que roupa?… – caminho até meu guarda-roupa e abro as portas do
mesmo. Olho pra minha calça jeans skinny preta e uma blusa creme levemente
decotada e bata. Puxo ambos e calço um salto meia pata marrom envernizado.
Já vestida, maquiei
meu rosto de forma suave. A casa da Jaque é abafada e seria horrível se minha
maquiagem ficasse borrada por conta do suor.
Como se fosse
combinado, assim que guardei meu estojo de maquiagens, meu celular brilha,
indicando que Letícia estava me esperando no portão de casa. Peguei minha
jaqueta jeans preta e fui caminhando até o portão até que avistei Letícia. Ela estava linda. Seus cabelos loiros
estavam suavemente postos de lado. Seus olhos azuis eram acompanhados de
glitter. Ela usava uma camiseta verde escura e uma calça jeans clara desfiada.
Nos pés, usava uma melissa nude. Letícia tinha um estilo fofo e sensual. Todos
os garotos morreriam por seu beijo.
- Oi Rafa – disse
acenando com um sorriso acanhado.
- Oi! – ele disse
com um sorriso animado. Estava na cara que a noite iria ser boa pra ele e
Letícia, pois amanhã completarão dois anos de namoro. Essa noite seria longa,
muito longa.
- Ok, vamos. – Digo
enquanto eu e Letícia caminhamos até o carro de Rafa depois que tranquei o portão.
Ao chegar, havia
alguns carros e motos parados nos dois lados da rua. O lugar estava um fervo!
Duas vezes mais pessoas que eu achei que haveria. Letícia tinha razão em dizer
que seria abarrotado de gente.
Por mais que
estivesse acompanhada, Letícia nunca me deixava com a sensação de ser vela. Na
verdade, ela dava mais atenção pra mim do que pro Rafa, mas ele parecia não se
importar. Ele e eu sabíamos que ela iria pra casa dele no fim da noite.
Subimos a estreita
escada da casa da Jaque. O som da música eletrônica tomava conta do local. Já
na entrada, cumprimentei com um amistoso beijo no rosto dos meus amigos,
conhecidos, novos conhecidos, até que finalmente chegamos ao interior da casa,
onde estavam meus parceiros. Apesar de Letícia e eu termos 17 anos, gostávamos de andar com pessoas mais velhas.
- Chegou! – disse
Sara, uma mulher meiga, baixinha e simpática. Ela usava um short e uma
camiseta, ambos pretos – Meus amores! – disse puxando-me. Letícia e Rafael seguiram-me até os outros. Amanda e Gabriela. Ambas usavam camisetas vermelhas e
calças, mas a de Amanda era preta e de Gabriela ela incrementada e
detonada. Alguns garotos estavam juntos. Dois deles eu conhecia. Eduardo usava o mesmo corte de cabelo. Moicano, e tinha um novo piercing, dessa vez no
nariz. Sua pele negra destacava sob a camiseta branca polo que usava junto com
uma calça jeans preta. Como sempre, seu tipo alto e forte fez com que meus
olhos escorregassem por seu copo por segundos. Gustavo tinha o mesmo rosto
brincalhão. Seus olhos verdes brilhavam com a pouca luz que havia na sala. O
mesmo usava uma camiseta azul escura e jeans do mesmo tom. Seu tipo magro e
alto o deixava tão convidativo que era possível se apaixonar somente de
olhá-lo. Então, minha atenção dirigiu-se apenas para o garoto desconhecido. Seus cabelos castanhos claros
tinham um corte bem aparado nos lados e um topete razoável. Não tive certeza se
seus olhos eram castanhos claros ou verdes. “Ó Meu Deus”, pensei ao olhar seus
lábios carnudos e rosados. Seus ombros largos eram destacados pela camiseta
rosa clara que usava. Essa camiseta era o par perfeito de seus lábios. Seu
corpo não era sarado como de um modelo, mas tinha uma estrutura perfeita. Suas pernas e quadris eram preenchidos por
um jeans azul marinho e nos pés ele usava um tênis esportivo branco. Perfeito.
- E aí – disse a
todos.
- Ah, garotas e…
Rafael – Sara disse animada e destacando o nome de Rafael e isso o fez rir – Este é meu primo, Fernando – disse apontando para o garoto desconhecido e no mesmo
momento lembro-me que já havia escutado histórias sobre esse tal Fernando.
- Oi, tudo bem? –
Fernando sorriu de forma receptiva e calorosa.
- Oi – Letícia e eu
respondemos justas. Voz dela saiu mais fina que o normal. Não era pra menos.
Fernando tirava a atenção de qualquer garota em sã consciência. Ainda mais,
garotas como eu.
- E aí, cara –
Rafael disse sorridente. Talvez não tenha percebido o tom de Letícia.
A noite foi
passando tranquilamente. Depois de algumas goladas em bebidas variadas, várias
risadas, Gustavo tira do seu bolso o que todos do grupo mais esperava.
- Um “oi” da
senhorita verde – disse acendendo o baseado. Fuma e passa o mesmo pra Gabriela
até que este chegue à mim. Fumo o mais devagar possível, sentindo o gosto, a
textura e o cheiro da maconha entrar lentamente em meu corpo. No mesmo instante
sinto-me relaxada. Passo o mesmo pra Fernando, que me observava atentamente.
Pude perceber que seus olhos são castanhos claros, no mesmo tom que seus
cabelos. Quando Fernando fumou, pude sentir os pelos de meus braços se
eriçarem. Ele era sexy. Seus dedos seguravam o baseado suavemente, com cuidado.
Suas sobrancelhas contraíram-se com sua expressão agressiva. Seu tórax inflou
lentamente ao puxar o ar. Seus lábios soltaram a fumaça de forma tão excitante
que eu pude sentir meus pés formigarem e serrei meus punhos, com a intenção de
conter o calor que subia por minha espinha. Ele entra o baseado pra Eduardo e
me encara em seguida com um sorriso leve em seus lábios. Ele se aproxima
lentamente até que nossos lábios se encontram. Seu beijo tinha sabor de álcool
e menta. Sua língua tocava a minha com tamanha maciez que nunca havia sentido
antes. Suas mãos agarram meu pescoço e cabelos de forma um tanto bruta, mas
gostosa e ele entrega-me durante o beijo a bala que havia em sua boca.
Depois de algumas
horas de conversa e beijos, percebo que Letícia e Rafael não estavam mais na
sala. Olho para os lados e pergunto à todos na esperança que alguém me
responda:
- A Letícia foi
embora? - imaginei que ela tenha deduzido que eu iria embora com
Fernando, pois ela não teria me deixado sozinha. “Obrigada, amiga” agradeci
Letícia mentalmente, pois seria maravilhoso passar a noite com Fernando
- Já tem um bom
tempo – disse Amanda, com um sorriso.
- Eu te levo – viro
meu rosto para o dono daquela voz rouca e sorrio – Mas alguém tem que te
emprestar um capacete – disse sorrindo, porém era possível ver que estava
falando sério.
Assenti e pensei o
mais rápido possível em alguém que pudesse emprestar um capacete. “Jaque”.
Corri pelos cômodos mal iluminados à procura da dona da casa. “Onde estão
aqueles cabelos vermelhos?” pensei. Pude sentir um grande alívio ao vê-la. Alta
e estonteante, ela usava um vestido vermelho do mesmo tom de seus fios,
acompanhados de lábios vermelhos. Vermelho caia muito bem em seu tom de pele
bronzeado.
- Oi, Jaque –
sorri. Ela era uma das pessoas mais verdadeiras que eu já havia conhecido em
toda a minha vida – Você pode me emprestar um capacete? Minha carona está
de moto – fiz uma careta.
- Sussa, amiga!
Está na estante do meu quarto.
Fui ao quarto de
Jaque. Eu conhecia muito bem aquela casa de pintura desbotada. Jaque morava sozinha e sempre que eu não queria ir pra casa quando estava bêbada demais pra caminhar, ela deixava eu dormir no quarto ao lado do dela. Girei a maçaneta e de cara
pude ver o capacete branco cintilar na prateleira de madeira sintética que
havia na parede frontal de seu quarto. Peguei-o e desci escada abaixo o mais
rápido possível depois de bater a porta atrás de mim.
Ao voltar à sala
principal, Fernando me esperava encostado na parede ao lado da grande janela
com grades brancas, pude sentir um sorriso formar em meus lábios quando o mesmo
segurou em meu pulso e atravessamos pra fora da casa abarrotada.
- Você quer ir pra
sua casa agora? – perguntou atento e ansioso por minha resposta.
- Não está tão
tarde assim… – quando pensei em concretizar minha resposta ele continuou.
- A gente pode dar
uma volta, se você quiser – propôs.
- Você escolhe o
lugar, então – disse enquanto Fernando e eu descemos as escadas.
Fernando e eu
caminhamos até sua moto robusta e branca, onde pega seu capacete também branco
e encaixa-o em sua cabeça. Faço o mesmo enquanto ele monta em sua moto e a
liga. Subo logo em seguida e visto minha jaqueta. Assim que ele prepara a moto
e a acelera, meu corpo vai pra trás e eu agarro sua cintura por reflexo. Talvez
ele tenha feito isso de propósito, pois ele acelera cada vez mais aproveitando
que a longa rua estava livre. Ele sabia o que fazia. Senti-me segura com ele.
- Você tem medo? –
ele disse um pouco mais alto por conta do capacete que abafava sua voz, ao
virar a cabeça e tentar me olhar pelo canto dos olhos.
- Nem um pouco –
disse tranquila. Nunca tive medo de alta velocidade ou de motos. Logo, meus
olhos se fecharam e mordi meu lábio inferior. Era excitante. A adrenalina tomou
conta de mim quando ele empinou a moto. O perigo que corríamos por conta da
alta velocidade. O barulho ensurdecedor que o vento fazia ao entrar pelo
capacete. Tudo favorecia o lado de Fernando. Eu o queria cada vez mais sobre
meu corpo. Agarrei sua cintura com mais força. Isso só o fez acelerar mais
quando a frente da moto caiu no chão. De madrugada, as avenidas tornam-se
pistas e eu poderia apostar que o único som que poderia ser ouvido das casas e
prédios era o do potente motor que Fernando tinha posse.
Seguimos pra zona
norte da cidade até que Fernando diminuiu a velocidade e parou a moto
enfrente um condomínio que possuía um portão cinza. Ao adentrarmos, descemos da
moto e caminhamos em silêncio até o elevador, mas nossos olhos e gestos
conversavam. Pude perceber que ele estava tão ansioso para tirar a roupa como
eu estava. Quando conversamos mais cedo, Fernando disse que morava sozinho,
então fiquei aliviada, pois não haveria o desconforto de dar de cara com
sua família. Seguimos até seu apartamento no 5º andar e ao abrir a porta era
possível ver a cozinha e ao lado a sala. Coloquei meu capacete no chão, perto
da porta e assim que Fernando trancou a mesma, o mesmo sorriu. Não hesitei
quando o vi tão perto de mim. Agarrei-o com tanta força que meu nariz formigou
assim que o chocou-se em seu rosto. Minhas mãos não conseguiam decidir onde
apalpar. Eu sabia que ele era um fora da lei. E isso fazia com que eu o quisesse cada vez mais. Eu gosto do perigo. Só
de imaginar que a polícia poderia invadir o apartamento fez com que eu tirasse
minha blusa e jogasse-a no chão. Pude sentir um fogo excitante ascender em meus
pés, subir em minhas pernas e chegar em minha coluna.