domingo, 7 de abril de 2013

(cap1)



Ao acordar, esfreguei meus olhos e senti o rímel se esfarelar sob meus dedos. Automaticamente, lembrei-me da noite passada. Minha boca pediu por água mais do que nunca. Minha cabeça latejava e queimava ao mesmo tempo. O garoto que dormia ao meu lado – talvez Gabriel ou Guilerme – carregava um semblante preocupado. Ele deveria estar tão exausto como eu. Levantei-me e procurei por minhas roupas com a máxima cautela possível, pois não queria a cerimônia de despedida depois do sexo. Ao sair do motel abri minha carteira e vi que apenas tinha R$10,00. Desgostosa, caminhei bufando até o ponto de ônibus, pois seria caríssimo pagar um taxi até minha casa, que fica do outro lado da cidade.
Ao chegar em casa, minha mãe fez a usual e calorosa recepção:
- VOCÊ QUASE ME MATOU! POR ONDE VOCÊ ESTEVE? EU ESTOU CANSADA DISSO! NÃO AGUENTO MAIS!…
Eu revirei os olhos enquanto mordia um pedaço enorme do pão. Seu teatro era ridículo!
- Estou aqui agora… – respondi de forma neutra, interrompendo-a – Sem drama, tudo bem mamãe? – ironizei a ultima palavra enquanto subia pro meu quarto.
Depois de tomar um banho demorado e quente, dois analgésicos, 3 horas de sono e uma tarde de filmes, meu celular brilha e na tela aparece “Letícia”:
- AMIGA – grita animada, e eu sorrio. Letícia sempre me ajudou quando precisei. Realmente era minha amiga pra todas as horas – Se arruma! Hoje vai rolar um churras M-U-I-T-O foda na casa da Jaque! Vai ser um fervo! O Rafa também vai– nós duas rimos de forma infantil.
- Ok! Dá um toque e eu desço no portão.
- Tá, minha flor! Beijinhos! – e desligamos
- Tudo bem… – disse pra mim mesma – Que roupa?… – caminho até meu guarda-roupa e abro as portas do mesmo. Olho pra minha calça jeans skinny preta e uma blusa creme levemente decotada e bata. Puxo ambos e calço um salto meia pata marrom envernizado.
Já vestida, maquiei meu rosto de forma suave. A casa da Jaque é abafada e seria horrível se minha maquiagem ficasse borrada por conta do suor.
Como se fosse combinado, assim que guardei meu estojo de maquiagens, meu celular brilha, indicando que Letícia estava me esperando no portão de casa. Peguei minha jaqueta jeans preta e fui caminhando até o portão até que avistei Letícia. Ela estava linda. Seus cabelos loiros estavam suavemente postos de lado. Seus olhos azuis eram acompanhados de glitter. Ela usava uma camiseta verde escura e uma calça jeans clara desfiada. Nos pés, usava uma melissa nude. Letícia tinha um estilo fofo e sensual. Todos os garotos morreriam por seu beijo.
- Oi Rafa – disse acenando com um sorriso acanhado. 
- Oi! – ele disse com um sorriso animado. Estava na cara que a noite iria ser boa pra ele e Letícia, pois amanhã completarão dois anos de namoro. Essa noite seria longa, muito longa.
- Ok, vamos. – Digo enquanto eu e Letícia caminhamos até o carro de Rafa depois que tranquei o portão.
Ao chegar, havia alguns carros e motos parados nos dois lados da rua. O lugar estava um fervo! Duas vezes mais pessoas que eu achei que haveria. Letícia tinha razão em dizer que seria abarrotado de gente.
Por mais que estivesse acompanhada, Letícia nunca me deixava com a sensação de ser vela. Na verdade, ela dava mais atenção pra mim do que pro Rafa, mas ele parecia não se importar. Ele e eu sabíamos que ela iria pra casa dele no fim da noite.
Subimos a estreita escada da casa da Jaque. O som da música eletrônica tomava conta do local. Já na entrada, cumprimentei com um amistoso beijo no rosto dos meus amigos, conhecidos, novos conhecidos, até que finalmente chegamos ao interior da casa, onde estavam meus parceiros. Apesar de Letícia e eu termos 17 anos, gostávamos de andar com pessoas mais velhas.
- Chegou! – disse Sara, uma mulher meiga, baixinha e simpática. Ela usava um short e uma camiseta, ambos pretos – Meus amores! – disse puxando-me. Letícia e Rafael seguiram-me até os outros. Amanda e Gabriela. Ambas usavam camisetas vermelhas e calças, mas a de Amanda era preta e de Gabriela ela incrementada e detonada. Alguns garotos estavam juntos. Dois deles eu conhecia. Eduardo usava o mesmo corte de cabelo. Moicano, e tinha um novo piercing, dessa vez no nariz. Sua pele negra destacava sob a camiseta branca polo que usava junto com uma calça jeans preta. Como sempre, seu tipo alto e forte fez com que meus olhos escorregassem por seu copo por segundos. Gustavo tinha o mesmo rosto brincalhão. Seus olhos verdes brilhavam com a pouca luz que havia na sala. O mesmo usava uma camiseta azul escura e jeans do mesmo tom. Seu tipo magro e alto o deixava tão convidativo que era possível se apaixonar somente de olhá-lo. Então, minha atenção dirigiu-se apenas para o garoto desconhecido. Seus cabelos castanhos claros tinham um corte bem aparado nos lados e um topete razoável. Não tive certeza se seus olhos eram castanhos claros ou verdes. “Ó Meu Deus”, pensei ao olhar seus lábios carnudos e rosados. Seus ombros largos eram destacados pela camiseta rosa clara que usava. Essa camiseta era o par perfeito de seus lábios. Seu corpo não era sarado como de um modelo, mas tinha uma estrutura perfeita. Suas pernas e quadris eram preenchidos por um jeans azul marinho e nos pés ele usava um tênis esportivo branco. Perfeito.
- E aí – disse a todos. 
- Ah, garotas e… Rafael – Sara disse animada e destacando o nome de Rafael e isso o fez rir – Este é meu primo, Fernando – disse apontando para o garoto desconhecido e no mesmo momento lembro-me que já havia escutado histórias sobre esse tal Fernando.
- Oi, tudo bem? – Fernando sorriu de forma receptiva e calorosa.
- Oi – Letícia e eu respondemos justas. Voz dela saiu mais fina que o normal. Não era pra menos. Fernando tirava a atenção de qualquer garota em sã consciência. Ainda mais, garotas como eu.
- E aí, cara – Rafael disse sorridente. Talvez não tenha percebido o tom de Letícia.
A noite foi passando tranquilamente. Depois de algumas goladas em bebidas variadas, várias risadas, Gustavo tira do seu bolso o que todos do grupo mais esperava.
- Um “oi” da senhorita verde – disse acendendo o baseado. Fuma e passa o mesmo pra Gabriela até que este chegue à mim. Fumo o mais devagar possível, sentindo o gosto, a textura e o cheiro da maconha entrar lentamente em meu corpo. No mesmo instante sinto-me relaxada. Passo o mesmo pra Fernando, que me observava atentamente. Pude perceber que seus olhos são castanhos claros, no mesmo tom que seus cabelos. Quando Fernando fumou, pude sentir os pelos de meus braços se eriçarem. Ele era sexy. Seus dedos seguravam o baseado suavemente, com cuidado. Suas sobrancelhas contraíram-se com sua expressão agressiva. Seu tórax inflou lentamente ao puxar o ar. Seus lábios soltaram a fumaça de forma tão excitante que eu pude sentir meus pés formigarem e serrei meus punhos, com a intenção de conter o calor que subia por minha espinha. Ele entra o baseado pra Eduardo e me encara em seguida com um sorriso leve em seus lábios. Ele se aproxima lentamente até que nossos lábios se encontram. Seu beijo tinha sabor de álcool e menta. Sua língua tocava a minha com tamanha maciez que nunca havia sentido antes. Suas mãos agarram meu pescoço e cabelos de forma um tanto bruta, mas gostosa e ele entrega-me durante o beijo a bala que havia em sua boca.
Depois de algumas horas de conversa e beijos, percebo que Letícia e Rafael não estavam mais na sala. Olho para os lados e pergunto à todos na esperança que alguém me responda:
- A Letícia foi embora? - imaginei que ela tenha deduzido que eu iria embora com Fernando, pois ela não teria me deixado sozinha. “Obrigada, amiga” agradeci Letícia mentalmente, pois seria maravilhoso passar a noite com Fernando
- Já tem um bom tempo – disse Amanda, com um sorriso.
- Eu te levo – viro meu rosto para o dono daquela voz rouca e sorrio – Mas alguém tem que te emprestar um capacete – disse sorrindo, porém era possível ver que estava falando sério.
Assenti e pensei o mais rápido possível em alguém que pudesse emprestar um capacete. “Jaque”. Corri pelos cômodos mal iluminados à procura da dona da casa. “Onde estão aqueles cabelos vermelhos?” pensei. Pude sentir um grande alívio ao vê-la. Alta e estonteante, ela usava um vestido vermelho do mesmo tom de seus fios, acompanhados de lábios vermelhos. Vermelho caia muito bem em seu tom de pele bronzeado. 
- Oi, Jaque – sorri. Ela era uma das pessoas mais verdadeiras que eu já havia conhecido em toda a minha vida – Você pode me emprestar um capacete?  Minha carona está de moto – fiz uma careta.
- Sussa, amiga! Está na estante do meu quarto.
Fui ao quarto de Jaque. Eu conhecia muito bem aquela casa de pintura desbotada. Jaque morava sozinha e sempre que eu não queria ir pra casa quando estava bêbada demais pra caminhar, ela deixava eu dormir no quarto ao lado do dela. Girei a maçaneta e de cara pude ver o capacete branco cintilar na prateleira de madeira sintética que havia na parede frontal de seu quarto. Peguei-o e desci escada abaixo o mais rápido possível depois de bater a porta atrás de mim.
Ao voltar à sala principal, Fernando me esperava encostado na parede ao lado da grande janela com grades brancas, pude sentir um sorriso formar em meus lábios quando o mesmo segurou em meu pulso e atravessamos pra fora da casa abarrotada.
- Você quer ir pra sua casa agora? – perguntou atento e ansioso por minha resposta.
- Não está tão tarde assim… – quando pensei em concretizar minha resposta ele continuou.
- A gente pode dar uma volta, se você quiser – propôs. 
- Você escolhe o lugar, então – disse enquanto Fernando e eu descemos as escadas.
Fernando e eu caminhamos até sua moto robusta e branca, onde pega seu capacete também branco e encaixa-o em sua cabeça. Faço o mesmo enquanto ele monta em sua moto e a liga. Subo logo em seguida e visto minha jaqueta. Assim que ele prepara a moto e a acelera, meu corpo vai pra trás e eu agarro sua cintura por reflexo. Talvez ele tenha feito isso de propósito, pois ele acelera cada vez mais aproveitando que a longa rua estava livre. Ele sabia o que fazia. Senti-me segura com ele.
- Você tem medo? – ele disse um pouco mais alto por conta do capacete que abafava sua voz, ao virar a cabeça e tentar me olhar pelo canto dos olhos.
- Nem um pouco – disse tranquila. Nunca tive medo de alta velocidade ou de motos. Logo, meus olhos se fecharam e mordi meu lábio inferior. Era excitante. A adrenalina tomou conta de mim quando ele empinou a moto. O perigo que corríamos por conta da alta velocidade. O barulho ensurdecedor que o vento fazia ao entrar pelo capacete. Tudo favorecia o lado de Fernando. Eu o queria cada vez mais sobre meu corpo. Agarrei sua cintura com mais força. Isso só o fez acelerar mais quando a frente da moto caiu no chão. De madrugada, as avenidas tornam-se pistas e eu poderia apostar que o único som que poderia ser ouvido das casas e prédios era o do potente motor que Fernando tinha posse.
Seguimos pra zona norte da cidade até que Fernando diminuiu a velocidade e parou a moto enfrente um condomínio que possuía um portão cinza. Ao adentrarmos, descemos da moto e caminhamos em silêncio até o elevador, mas nossos olhos e gestos conversavam. Pude perceber que ele estava tão ansioso para tirar a roupa como eu estava. Quando conversamos mais cedo, Fernando disse que morava sozinho, então fiquei aliviada, pois não haveria o desconforto de dar de cara com sua família. Seguimos até seu apartamento no 5º andar e ao abrir a porta era possível ver a cozinha e ao lado a sala. Coloquei meu capacete no chão, perto da porta e assim que Fernando trancou a mesma, o mesmo sorriu. Não hesitei quando o vi tão perto de mim. Agarrei-o com tanta força que meu nariz formigou assim que o chocou-se em seu rosto. Minhas mãos não conseguiam decidir onde apalpar. Eu sabia que ele era um fora da lei. E isso fazia com que eu o quisesse cada vez mais. Eu gosto do perigo. Só de imaginar que a polícia poderia invadir o apartamento fez com que eu tirasse minha blusa e jogasse-a no chão. Pude sentir um fogo excitante ascender em meus pés, subir em minhas pernas e chegar em minha coluna.